Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Inclusão para o crescimento

A distribuição desigual dos benefícios da globalização tem sido reconhecida há alguns anos e atribuída, com frequência, à integração comercial

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

Igualdade e inclusão são hoje tópicos importantes na cartilha de crescimento e de segurança econômica do Fundo Monetário Internacional (FMI). Não se trata de um surto de moralidade ou de conversão ideológica, mas simplesmente de uma exigência técnica ou prática. Não adianta condenar o protecionismo quando parte importante dos trabalhadores fica fora dos ganhos da globalização e da modernização. “Reformas estruturais devem elevar as perspectivas de crescimento econômico no médio prazo, combater a lentidão da convergência de renda, apoiar a diversificação e garantir a ampla distribuição dos benefícios da tecnologia e da integração global”, defendeu a diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde, ao apresentar sua agenda política para 2018.

O protecionismo e o risco de guerra comercial foram apontados, na reunião de primavera do FMI, como ameaças ao crescimento econômico e à estabilidade dos mercados. O impulso por trás da expansão global continua forte, afirmou Lagarde, mas a escalada de conflitos comerciais e de instabilidade financeira aponta riscos alguns trimestres à frente.

O protecionismo comercial do presidente Donald Trump foi condenado nas principais apresentações de diretores do Fundo. Houve críticas também às formas de apropriação de tecnologia pelos chineses – um dos argumentos de Trump para justificar as novas barreiras alfandegárias. A discussão, no entanto, foi além das questões ligadas diretamente às práticas de comércio.

Os dirigentes da instituição foram fiéis a seu papel tradicional, defendendo um sistema baseado em regras multilaterais aplicáveis a todos, mas cobraram com insistência políticas a favor da inclusão. Já na pauta de discussões há alguns anos, o assunto ganhou relevo maior com a eleição de Trump e com o fortalecimento do populismo na Europa.

A distribuição desigual dos benefícios da globalização tem sido reconhecida há alguns anos e atribuída, com frequência, à integração comercial. Isso explica, em boa parte, a popularidade das políticas protecionistas e isolacionistas. Mesmo nos Estados Unidos, onde o desemprego caiu rapidamente desde o começo da recuperação econômica, as pressões a favor de barreiras têm sido muito fortes.

O tema foi enfrentado pelo economista-chefe do FMI, Maurice Obstfeld, no lançamento do Panorama Econômico Mundial, atualizado periodicamente pelos técnicos da instituição. Especialmente nas economias avançadas, disse Obstfeld, “o otimismo público em relação aos benefícios da integração econômica vem sendo erodido pela prolongada tendência de polarização de empregos e salários, acompanhada do crescimento persistentemente deprimido dos salários medianos”. Muitas famílias, acrescentou, viram pouco ou nenhum benefício do crescimento econômico.

Essas tendências, disse o economista-chefe, se devem mais à mudança tecnológica do que ao comércio. “A desilusão dos eleitores”, acrescentou, “aumenta a ameaça de desenvolvimentos políticos capazes de desestabilizar uma gama de orientações políticas além da própria política comercial.”

Para cuidar desse desafio, apontou Obstfeld, será preciso fortalecer o crescimento, espalhando seus benefícios e ampliando as oportunidades econômicas por meio de investimentos nas pessoas. Com isso será possível aumentar o sentimento de segurança dos trabalhadores diante de mudanças tecnológicas que podem alterar a natureza do trabalho.

Esse argumento, baseado em pesquisas conduzidas nos último anos, tem sido usado por defensores da integração comercial, a começar pelo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o brasileiro Roberto Azevêdo. A solução para integrar os trabalhadores nas novas condições de produção e de comércio é cuidar da educação e do treinamento profissional. O objetivo básico é combinar as vantagens da integração comercial e das novas cadeias de produção com a melhor distribuição de oportunidades em cada país e entre países.