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Inflação ainda impõe cuidados

A alta de preços continuou infernizando as famílias em julho, diminuindo seu poder de compra e dificultando a reativação do comércio e da produção industrial

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Por Redação
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A alta de preços continuou infernizando as famílias em julho, diminuindo seu poder de compra e dificultando a reativação do comércio e da produção industrial. A inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), teve um acréscimo de 0,52% no mês passado, acumulando 4,96% em sete meses. A meta fixada pelo governo, de 4,5% no ano, já foi, portanto, ultrapassada com pequena folga. Depois do repique no mês passado (em junho a taxa mensal havia sido de 0,35%), a tendência, segundo as previsões mais otimistas, é de acomodação neste semestre. Pode ser, mas ainda é cedo para apostar numa redução dos juros básicos pelo Banco Central (BC) antes do fim do ano. Há mais de um motivo para manter prudência em relação às próximas decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), formado por dirigentes do BC.

O novo presidente da instituição, Ilan Goldfajn, tem reafirmado inequivocamente o compromisso de levar a inflação à meta de 4,5% até o fim do próximo ano. A taxa acumulada em 12 meses tem diminuído, mas em julho ainda ficou em 8,74%, bem distante, portanto, do alvo oficial. Poderá continuar recuando em 2016, mas em ritmo ainda incerto.

Um aumento médio de preços de 0,4% ao mês será suficiente para uma variação de 6,65% entre janeiro e novembro e de 7,07% até o réveillon. O limite de tolerância, de 6,5%, será estourado, nessa hipótese, um mês antes do fim do ano.

O aumento de preços em julho foi puxado pelo grupo de alimentação e bebidas, com variação mensal de 1,32%. O encarecimento desse componente produziu cerca de dois terços da inflação representada no IPCA no mês passado. Mas é cedo para prever uma estabilização dos preços da comida e das bebidas, num ano com várias produções severamente prejudicadas pelas más condições do tempo – seca em algumas áreas, excesso de chuvas em outras, na hora errada.

Mas seria imprudente concentrar a atenção nesse item. Os demais preços continuam subindo, embora em ritmo variável de um mês para outro. Apesar do desemprego acima de 11% da força de trabalho, da redução da renda real das famílias e da consequente moderação do consumo, a inflação brasileira continua bem acima dos padrões internacionais. Uma alta de preços na vizinhança de 3% em 12 meses ficaria mais próxima dessa normalidade.

A partir das condições atuais, qual será a evolução dos preços, se a economia se estabilizar, o receio do desemprego diminuir e o mercado interno ganhar algum dinamismo? Se uma contração econômica de quase 4% foi insuficiente para derrubar a inflação a menos de 8% em 12 meses, deve haver bons motivos para duvidar de uma redução importante das pressões inflacionárias nos próximos meses. Essa dúvida é justificável principalmente pela insegurança quanto ao conserto das finanças públicas, devastadas por um enorme acúmulo de erros e de irresponsabilidades.

Diretores e técnicos do BC têm chamado a atenção para a importância desse fator. Dificilmente haverá condições para afrouxamento da política monetária, com juros menores e maior oferta de crédito, enquanto faltar clareza quanto ao rumo da política fiscal. Foram dados os passos iniciais do ajuste. O mais importante foi a proposta de limites para o aumento de gastos da União e dos Estados. Mas falta a consolidação política dessa nova orientação, assim como faltam as condições para iniciativas mais ambiciosas, como a reforma da Previdência.

Condições mais favoráveis a uma política austera deverão surgir com a confirmação do afastamento da presidente Dilma Rousseff e a efetivação do governo hoje provisório. Haverá resistência – entre políticos, empresários e sindicalistas – a uma política orçamentária mais severa, com uso mais prudente e mais eficaz do dinheiro público. Mas o Executivo federal estará em melhor posição para propor as mudanças necessárias. Abrandar a política de juros antes disso, mesmo diante de alguma acomodação dos preços, será imprudência.