Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Juros ativos e passivos em direções opostas

Exclusivo para assinantes
Por Redação
Atualização:
2 min de leitura

Enquanto caem os juros pagos aos aplicadores (juros passivos), com base na expectativa de índices de inflação mais comportados e de que o déficit fiscal seja mais combatido com mais rigor, subiram em abril pelo 19.º mês consecutivo os juros cobrados dos tomadores de empréstimos (juros ativos), segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças e Contabilidade (Anefac). A escalada de juros ativos tem alto custo para empresas e famílias que dependem de empréstimos, influenciando perigosamente o ritmo da atividade econômica.

As empresas pagaram em média juros de 4,58% ao mês e 71,15% ao ano em abril, comparativamente a 4,50% em março e 4% em março de 2013, quando a taxa básica de juros era de 7,25% ao ano.

São juros elevadíssimos a que só se submetem companhias em graves dificuldades ou que operam com altas margens de lucro, algo raro em plena recessão. O maior custo é o das contas garantidas, espécie de cheque especial das empresas, mas também são altíssimos os juros médios do capital de giro (37,35% ao ano) e do desconto de duplicatas (44,25% ao ano).

Já as pessoas físicas pagaram em média juros de 7,95% ao mês ou 150,42% ao ano em abril, sob influência do cartão de crédito (435,58% ao ano, maior taxa em duas décadas) e cheque especial (267,64% ao ano, maior nível desde 1999).

Não se pode esperar que o consumo retorne a seu nível habitual com juros dessa magnitude. Ao contrário, os juros ajudam a explicar por que nos últimos 12 meses, até março, comparativamente aos 12 meses anteriores, as vendas de móveis e eletrodomésticos caíram 16,6% e as de veículos cederam 17,6%.

Só em parte a elevação sucessiva de juros advém da alta da Selic de 7,25% ao ano em abril de 2013 para 14,25% desde julho de 2015. Os bancos aumentaram mais do que proporcionalmente os spreads (diferença entre os juros ativos e passivos) e parecem temer os efeitos da recessão sobre a inadimplência. Não se deve esquecer que juros altos estimulam a inadimplência, maior em operações de cheque especial e no rotativo do cartão de crédito.

Os agentes econômicos antecipam queda da taxa Selic. A pesquisa Focus feita pelo Banco Central ouvindo as consultorias privadas estima um juro básico de 13% ao ano em dezembro e de 11,50% ao ano no final de 2017. Será muito melhor para a economia que os juros ativos também tenham uma queda expressiva.