Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Longe das Metas do Milênio

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

Dez anos depois que dirigentes de centenas de países definiram as Metas de Desenvolvimento do Milênio para reduzir a fome e a pobreza no mundo e melhorar as condições de vida de bilhões de pessoas, e faltando apenas cinco anos para o esgotamento do prazo fixado para atingi-las, líderes mundiais continuam a discutir como alcançá-las. O balanço dos avanços registrados até agora mostra resultados muito desiguais entre as regiões e deixa claro que, sem um esforço adicional dos países desenvolvidos e emergentes e das principais organizações internacionais, muitos milhões de pessoas continuarão a viver em condições de miséria extrema.Há alguns dias, ao apresentar o relatório Cumprir a promessa - elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU) para a reunião de cúpula sobre as Metas do Milênio realizada antes da abertura, nesta quinta-feira, dia 23, da 65.ª Assembleia-Geral da organização -, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, fez um apelo aos dirigentes mundiais, pedindo-lhes empenho para que as metas sejam alcançadas. "Não podemos desiludir bilhões de pessoas que esperam que a comunidade internacional cumpra a promessa de um mundo melhor contida na Declaração do Milênio", disse Ban. Não alcançar as metas "seria um fracasso moral e prático inaceitável".Entre as Metas do Milênio fixadas para 2015 estão a erradicação da pobreza extrema e da fome no mundo, a universalização do ensino básico, a redução da mortalidade infantil e a garantia de um crescimento que assegure a preservação do meio ambiente.Com base em resultados de alguns países de renda muito baixa, o relatório da ONU conclui que é possível alcançar as metas se houver políticas corretas, investimentos suficientes e apoio internacional. Mas os progressos observados nos últimos anos foram desiguais e, sem novos esforços da comunidade internacional, muitos países mais carentes não alcançarão as Metas do Milênio.A melhora tem sido "inaceitavelmente lenta", como observou Ban, e por isso as proporções da pobreza no mundo continuam degradantes. De acordo com a ONU, 1,4 bilhão de pessoas sobrevivem com menos de US$ 1,45 por dia, renda mínima definida pelo Banco Mundial para uma pessoa sair da situação de pobreza extrema. Perto de 1 bilhão de pessoas passam fome, quase 9 milhões de crianças morrem, por ano, antes de completar 5 anos de idade, centenas de milhares de mulheres morrem anualmente por complicações na gravidez e no parto e apenas metade da população mundial tem acesso a saneamento básico. A recente crise mundial reduziu a velocidade do avanço que se observava em muitos países de renda baixa e, em alguns, interrompeu esse processo. Ela lançou de volta à situação de pobreza milhões de pessoas que haviam melhorado de vida nos anos anteriores, e tornou ainda mais difícil para esses países atingir as metas.Na reunião de cúpula sobre as Metas do Milênio, o diretor do FMI, Dominique Strauss-Kahn, disse que o mundo precisa esforçar-se para que a melhora das condições de vida das populações pobres recupere o ritmo que tinha antes da crise.O caminho é conhecido. Em discussão técnica realizada pelo Fundo como preparação para a reunião na ONU, o vice-diretor-gerente da organização, John Lipsky, observou que a cooperação internacional é indispensável para a economia mundial retomar um crescimento satisfatório. Os países menos desenvolvidos precisam melhorar sua infraestrutura e, para isso, necessitam de apoio financeiro externo. Países com grandes superávits comerciais devem estimular a demanda interna, enquanto os que têm déficits precisam exportar mais.Strauss-Kahn recomendou que os governantes e dirigentes de instituições internacionais - como FMI, Banco Mundial e ONU - que ajudaram a definir as metas assumam conjuntamente a responsabilidade de fazer isso. "Tudo depende da restauração do crescimento econômico global equilibrado e sustentável", disse o diretor do FMI. Sem isso, "todos os demais esforços serão frustrados".