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Lucro maior, estagnação igual

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Por Redação
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Depois de muita notícia ruim sobre a produção, o investimento e a exportação do setor industrial, uma novidade positiva surpreende: os custos cresceram menos em 2013 que nos dois anos anteriores e a margem de lucro aumentou, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Mas o efeito dessa melhora foi limitado. A presença de importados no mercado interno continuou aumentando, a exportação de manufaturados e semimanufaturados foi mais um fiasco e o crescimento da produção mal compensou o recuo no período anterior. A principal consequência positiva - talvez a única - parece ter sido a melhora do balanço financeiro, um pouco mais de fôlego para este e os próximos anos. O aumento de custos no ano passado ainda foi alto (4,1%), mas bem mais suave que em 2012 (6,5%) e em 2011 (6,4%). Os autores do trabalho distinguiram três categorias de custos - de produção, de capital de giro e tributário. No primeiro grupo, a variação passou de 8,4% em 2012 para 6% no ano passado, com menor expansão dos gastos com pessoal e com bens intermediários e redução da despesa com eletricidade.Neste item, a variação negativa de 13,5% resultou de uma decisão política da presidente da República, destinada a beneficiar também as famílias. O relatório registra a diminuição da conta de eletricidade e a tendência de aumento no trimestre final, mas passa longe da questão essencial, a possibilidade de manutenção dessa política. A redução política das tarifas afetou as contas públicas e impôs perdas a empresas do setor elétrico e o governo terá de enfrentar o problema. O menor aumento de custos industriais resultou em parte de uma política insustentável e danosa para o Tesouro e para os consumidores, incluída a indústria. Com uma alta do dólar menor que a do ano anterior, o custo dos bens intermediários - componentes da produção - subiu 6,4%, bem menos que no ano anterior (7,9%). A cotação média do dólar, durante o ano, barateou a importação de parte desses bens e favoreceu a composição dos custos. O aumento do gasto com pessoal (7,5%), embora menor que em 2012, ainda foi muito grande. A redução do emprego no setor pode ter contribuído para essa evolução pouco mais favorável e também para algum aumento da produtividade da mão de obra, mas o relatório também passa longe desses detalhes e, de modo geral, dos problemas da eficiência produtiva. Apenas se aproxima do assunto quando cita os ganhos de lucratividade e competitividade. Mas esses ganhos pouco afetaram o desempenho do setor. Isso fica evidente quando se levam em conta os números da produção e do comércio exterior. Em 2013 a exportação de manufaturados foi 1,8% maior que em 2012, nas contas oficiais, mas só porque foram computadas as vendas fictícias de plataformas de petróleo. Sem isso, houve recuo. No caso dos semimanufaturados, a receita foi 8,3% menor que a do ano anterior, pela média dos dias úteis. A própria CNI havia apontado, antes do governo, as dificuldades comerciais do setor. No terceiro trimestre de 2013 os bens importados corresponderam a 21,8% do consumo nacional de bens industriais, a maior taxa da série disponível. Nos três meses anteriores o coeficiente havia chegado a 21,1%. Foram 14 aumentos trimestrais consecutivos. A história seria muito diferente se isso tivesse resultado de uma política de abertura comercial. Mas a política brasileira tem sido de crescente protecionismo, com barreiras e políticas - em geral fracassadas - de benefícios especiais aos fabricantes nacionais. Enquanto isso, o coeficiente de exportação permaneceu em 19,2%, bem inferior ao pico de 20,5% alcançado em 2009. Segundo o relatório, os dados mostram a importância de manutenção das "políticas pró-competitividade" (desonerações e concessões). As concessões na área de infraestrutura podem ser, de fato, importantes para ganhos gerais de eficiência. Mas a desoneração foi mal concebida, distribui benefícios de forma discriminatória e é um fracasso. Como podem os técnicos da CNI desconhecer esse fato? A solução só pode estar em outras políticas.