Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Lula, um peso para o PT

Exclusivo para assinantes
Por Redação
Atualização:
3 min de leitura

Há quem diga que o maior problema do PT é o governo que reelegeu em outubro de 2014. Não é mais. Os petistas já desistiram de Dilma Rousseff. Mantêm as aparências, até porque ninguém lá quer abrir mão das boquinhas conquistadas. Mas o PT deixou de ser o partido do governo a partir do instante em que recusou apoio a medidas consideradas essenciais pelo Planalto para enfrentar a crise econômica. A conclusão do processo de ajuste fiscal e a reforma da Previdência são dois exemplos relevantes.

Ao deixar Dilma ao relento, o PT contava com o bônus Lula. Mas o bônus virou ônus. Hoje, o PT é obrigado a carregar o peso político e moral em que se transformou o seu principal líder: Luiz Inácio Lula da Silva. A concretização daquilo que todo mundo sempre soube que mais cedo ou mais tarde aconteceria – o envolvimento cada vez maior e mais profundo de Lula nas investigações de corrupção – obriga o PT a defender o seu cacique a qualquer custo. O articulador formal dessa ingrata missão é um pau-mandado de Lula, o presidente nacional do PT, Rui Falcão. Na segunda-feira passada, ele divulgou uma das peças fundamentais de sua estratégia no site “Agência PT de Notícias”.

O texto é uma impressionante peça de ficção que começa fazendo aquilo em que o PT é insuperável: atacar. Escreve Rui Falcão: “Nunca antes neste país um ex-presidente da República foi tão caluniado, difamado, injuriado como o companheiro Lula. Inconformado com sua aprovação inédita ao deixar o governo, o consórcio entre a oposição reacionária, a mídia monopolizada e setores do aparelho de Estado capturados pela direita quer convertê-lo em vilão”.

Lula deixou o governo com uma aprovação inédita, há mais de cinco anos. Desde então, seu prestígio despencou, junto com o de Dilma e o do PT, e não foi por culpa da “oposição reacionária”, da “mídia monopolizada” – seja lá que bobagem se pretenda dizer com isso – ou de “setores do aparelho de Estado capturados pela direita”. Faltou coragem a Falcão para nomear claramente os “capturados”: a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e setores do Judiciário, como a 13.ª Vara Criminal Federal, do juiz Sergio Moro.

O grande lance de ilusionismo de Falcão, porém, é a tentativa de apagar da memória dos brasileiros cinco anos de governo Dilma, o que, por si só, deixa claro que o PT abandonou de vez a soçobrante nau governista. Agora, aposta no futuro: “O legado de realizações a favor dos mais pobres, a elevação do Brasil no cenário mundial, os sucessos na educação, na saúde, nos programas sociais, na área da infraestrutura, em seus oito anos na Presidência, precisa ser destruído para que Lula não possa retornar em 2018”.

Ora, o “legado de realizações” já está sendo destruído. São as realizações que, na verdade, Lula herdou, ampliou e aprofundou, só negligenciando a necessidade de dar-lhes sustentabilidade na área econômica e institucional por meio de reformas estruturantes do Estado. A destruição desse legado, de que os indicadores econômicos e sociais dão notícia diariamente, é a obra-prima de Dilma Rousseff. Não é por outra razão que o PT quer distância dela.

Se tivesse realmente um mínimo de comprometimento com o verdadeiro interesse social, o PT teria tido a coragem de apoiar as medidas impopulares indispensáveis ao saneamento das contas públicas e à criação de condições para que o governo assuma a responsabilidade não de impor, mas de coordenar um amplo e eficiente programa de recuperação econômica e retomada do crescimento.

Mas o PT acha que pode se salvar, como sempre, iludindo os brasileiros, agora combatendo “a escalada golpista” e o “cerco criminoso ao Lula”. Este, aliás, está envolvido em novo inquérito policial, de caráter sigiloso, no âmbito da Operação Lava Jato, a respeito do já famoso sítio em Atibaia que amigos generosos e desinteressados “disponibilizam” para recreio do clã Da Silva. O “criminoso” responsável por mais esse ato de “linchamento político e moral” de Lula, baseado em “denúncias sem provas”, é, claro, o juiz Sergio Moro.