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Mais baixos, mas ainda altos

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Por Redação
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A decisão dos dois maiores bancos privados de cortar pela metade os juros das operações rotativas dos cartões de crédito mostra que, quando pressionadas, essas instituições podem reduzir de maneira substancial o custo financeiro imposto aos seus clientes. A queda desses juros foi forçada por reduções ainda maiores anunciadas pelos bancos federais.O fato de os bancos privados terem feito isso sem dar sinal de que recorrerão a medidas extremas para manter suas operações ou para oferecer rendimentos satisfatórios a seus acionistas é revelador de quão altas estavam essas taxas. No entanto, apesar da redução, elas continuam escorchantemente altas. Reduzido de 14,9% ao mês para 6,9%, o juro cobrado por um desses bancos corresponde a 123% ao ano, uma taxa ainda espantosa para a inflação corrente.Este é apenas um dos aspectos da política de juros dos bancos que escarnecem do consumidor, além de o esfolarem financeiramente. Agora, as maiores instituições financeiras discutem se devem ou não cobrar do consumidor juros das compras com cartão de crédito em operações que o mercado chama enganosamente de "parcelamento sem juros". É tolice imaginar que, numa economia que dispõe de um sistema bancário tão bem equipado e lucrativo, financiamentos sejam concedidos "sem juros". Na verdade, os juros estão embutidos no preço informado como sendo "à vista".O objetivo dos bancos que propõem a cobrança de juros nas vendas parceladas "sem juros" nos cartões de créditos é compensar a perda em que incorrerão com a redução dos juros das operações rotativas. Uma alternativa é o repasse, para as lojas, de parte dos custos adicionais. Outros bancos, entre os quais os oficiais, resistem à imposição de mais custos ao consumidor, pois isso afetaria as vendas num momento em que o governo vem procurando estimular a atividade econômica. Qualquer que seja o resultado da disputa entre os bancos, em nada ele beneficiará os consumidores. Na melhor das hipóteses, eles continuarão pagando juros sobre as vendas ditas "sem juros". Na pior, pagarão mais juros.A Bolsa reagiu com preocupação à decisão dos bancos de reduzir os juros, que foi interpretada como indicação de que os lucros poderão cair. Prudentemente, porém, os grandes bancos estão se preparando há tempos para reduzir seus juros, ainda que a velocidade menor do que a da queda dos juros nos bancos oficiais.Boa parte do que deixarão de ganhar de um lado, os bancos ganharão de outro. Como mostrou reportagem do Jornal da Tarde (27/9), do início do ano até o dia 19 de setembro, as tarifas máximas cobradas de pessoas físicas por bancos públicos e privados por produtos e serviços comuns subiram até 191%. A tarifa que mais subiu foi a da operação de compra de moeda com cartão pré-pago, que passou de R$ 18,33 para R$ 53,44. Operações bem mais corriqueiras, como a de fornecimento de extrato mensal ao correntista, tiveram aumento de quase 50% (a tarifa passou de R$ 2,48 para R$ 3,71). Analistas de balanços de bancos têm mostrado que as receitas com tarifas já são mais do que suficientes para cobrir toda a folha de pagamentos; em alguns chegam a ser 40% maiores que o custo do pessoal. Os próximos balanços deverão apontar números ainda mais favoráveis aos bancos.Na sua ofensiva contra os juros altos, a presidente Dilma Rousseff tem utilizado intensamente o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, com grande aporte de recursos do Tesouro, o último dos quais de R$ 8 bilhões para a primeira instituição e de R$ 13 bilhões para a segunda. A agressiva política de redução de juros e de ampliação da oferta de créditos dos bancos oficiais pode comprometer seus resultados, com custos para o Tesouro, ou provocar o aumento do índice de inadimplência, como advertem com ênfase crescente economistas do setor privado, o que também prejudicará sua rentabilidade.Nessa história de redução dos juros, ainda que possa haver benefícios para o consumidor, muita coisa não lhe está sendo dita de maneira clara.