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Mais realismo na Petrobrás

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Por Redação
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Se o conselho de uma empresa privada tivesse encontrado tanta dificuldade como o Conselho de Administração da Petrobrás enfrentou para impor à diretoria da estatal a revisão do plano de investimentos para 2011 e para os próximos quatro anos, com o objetivo de adequá-lo à situação das contas públicas e à realidade econômico-financeira do País e da empresa, certamente boa parte dessa diretoria, se não toda ela, teria sido substituída. Embora detenha folgada maioria no Conselho da Petrobrás, o governo precisou de três reuniões para, afinal, incluir uma dose de realismo nos planos da empresa, ao que a diretoria executiva vinha se opondo. Mas, apesar de tanta resistência às determinações do controlador da empresa, a diretoria não será alterada.Da proposta inicial do Plano de Negócios 2011-2015, que previa investimentos de mais de US$ 270 bilhões, a Petrobrás cortou cerca de US$ 50 bilhões, limitando suas aplicações a US$ 224,7 bilhões, valor praticamente igual ao que foi aprovado para o período 2010-2014, de US$ 224 bilhões. Desde o fim da década de 1990, com a abertura do setor de petróleo à iniciativa privada, é a primeira vez que a Petrobrás não amplia de maneira significativa seus investimentos.A decisão do Conselho afeta também planos de curto prazo. A empresa terá de cortar até os investimentos previstos para 2011, de US$ 93 bilhões para US$ 84,7 bilhões. E fará isso faltando apenas cinco meses para o término do ano.Em nota na qual informa o mercado sobre a decisão de seu Conselho, a Petrobrás esclarece que a decisão implicará, pela primeira vez, a inclusão de "um programa de desinvestimento em um montante de US$ 13,6 bilhões". Isso quer dizer que a empresa terá de vender ativos no valor citado. Em entrevista que concedeu na segunda-feira, o presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli, não detalhou esse "desinvestimento", dizendo apenas que implicará a venda em bloco de ativos em áreas exploratórias e de participação em outras empresas, assim como a melhoria na gestão de capital de giro.O objetivo dessa venda de ativos, de acordo com a nota divulgada pela empresa, é alcançar "maior eficiência na gestão dos ativos da companhia e rentabilidade". Implicitamente, ela reconhece que, por meio de medidas de austeridade, é possível melhorar a qualidade de sua administração e, ainda assim, assegurar a rentabilidade das operações em benefício de seus acionistas.A necessidade de mais realismo e mais eficiência na gestão da empresa tinha sido mencionada pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho, membro do Conselho de Administração da Petrobrás, logo após uma das reuniões nas quais o plano proposto pela diretoria foi rejeitado. "A Petrobrás deve caminhar para metas mais realistas", disse Coutinho. "O Conselho coloca pressão para que a empresa seja eficiente, de forma a garantir o retorno dos projetos."O ministro da Fazenda, Guido Mantega, presidente do Conselho de Administração da Petrobrás, foi quem, em nome do governo, impôs um freio nos grandiosos planos de investimentos da empresa, de modo a reduzir suas encomendas e seus gastos no mercado interno e, assim, evitar um aquecimento ainda mais intenso da demanda num momento em que a inflação sobe. Além disso, com o corte de seus gastos, a empresa pode contribuir para melhorar o superávit primário do governo.Este parece ser um raro caso em que a ingerência do governo na gestão de uma empresa que tem ações negociadas em bolsa pode resultar em ganhos para todos. Mesmo com o corte de investimentos em relação à proposta inicial de sua diretoria, a Petrobrás deverá aumentar sua produção em relação às metas anteriores. A meta de produção de óleo e gás natural no Brasil para este ano foi mantida em 2,1 milhões de barris por dia e a de petróleo e gás no País e no exterior, em 2,77 milhões de barris equivalentes a óleo por dia (boed). Já para 2020 a meta é de 6,418 milhões de barris equivalentes, 20% mais do que a estimativa de 5,382 milhões de barris do plano anterior.