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Mais sustos na economia global

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Por Redação
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Uma enxurrada de más notícias varreu dos mercados a boa novidade do fim de semana: a previsão de uma lenta melhora na economia europeia a partir do segundo semestre. A perda de impulso da economia chinesa, a segunda maior do mundo, as incertezas políticas sobre a pequena Grécia, o prejuízo anunciado pelo gigante americano J. P. Morgan e o pesado ajuste previsto para os bancos espanhóis ocuparam analistas e operadores de bolsas durante a maior parte da sexta-feira. No fim do dia, o líder do Partido Socialista grego, Evangelos Venizelos, anunciou haver desistido de formar um governo de coalizão e marcou encontro com o presidente para comunicar-lhe oficialmente o fracasso. A hipótese de uma nova eleição parlamentar na Grécia, como parte do esforço para formação de um gabinete, vem sendo um forte motivo de preocupação nos mercados financeiros.Os sustos têm vindo tanto de pequenas economias, como a grega, quanto das maiores. Em abril, a produção industrial chinesa foi 9,3% maior que a de um ano antes. Especialistas haviam projetado um aumento de 12,2%. Os sinais de desaceleração parecem muito claros. Em março, a indústria havia produzido 11,9% mais que no mês correspondente de 2011. As vendas no varejo também têm avançado mais lentamente. O esfriamento dos negócios já se reflete nas importações chinesas, um dos grandes motores do comércio internacional. Nos Estados Unidos, a diretoria do J. P. Morgan informou um prejuízo de cerca de US$ 2 bilhões no segundo trimestre. O executivo-chefe do banco, James Dimon, reconheceu "erros escandalosos" e prometeu medidas para melhorar o desempenho. As ações do banco caíram 8%, surgiram rumores sobre novos rebaixamentos de instituições financeiras americanas e a Securities Exchange Comission (SEC), a agência reguladora e fiscalizadora do mercado de capitais, anunciou uma severa investigação. Juntaram-se ingredientes em número mais que suficiente para repor o sistema bancário no topo das preocupações - pelo menos até se conhecer o tamanho do estrago causado pelos desmandos no J. P. Morgan. Na Europa, a melhor notícia da semana foi a previsão de uma retomada do crescimento regional a partir do segundo semestre, de acordo com as estatísticas da Comissão Europeia. A recuperação nos próximos meses ainda será insuficiente para um resultado, em 2012, melhor que o previsto nas projeções divulgadas em fevereiro. A União Europeia fechará o ano com crescimento nulo e o Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro deve encolher 0,3% no período. A melhora deverá ser mais sensível em 2013, com expansão de 1,3% para o bloco europeu e de 1% para a união monetária. O desemprego continuará elevado - 10% na União Europeia e 11% na área do euro - e o ajuste das contas públicas deverá avançar. Neste item, a média das projeções é bastante animadora. O déficit público deve cair 3,3%, em média, no conjunto maior, e cerca de 2,9% na união monetária, um resultado espantoso, à primeira vista, quando se consideram os problemas orçamentários de diversos países. Mas o quadro é bem menos favorável quando se examinam as perspectivas das várias economias nacionais. A evolução da atividade será muito desigual. A Alemanha deve crescer 0,7% em 2012 e 1,7% no próximo ano. A Grécia sofrerá uma contração econômica de 4,7% em 2012 e terá crescimento nulo em 2013. Espanha, Portugal e Itália devem enfrentar recessão neste ano.As perspectivas são também desiguais quando se trata da situação fiscal. Vários países conseguirão em 2013 um resultado melhor que o déficit de 3% do PIB combinado no pacto fiscal, mas outros serão incapazes de alcançar a meta. Grécia, França, Holanda e Espanha deverão estar nesse grupo. O recém-eleito presidente da França, François Hollande, promete um esforço para alcançar a meta de 3%, segundo informou um assessor na sexta-feira. No dia 15, logo depois da posse, Hollande deverá encontrar-se com a chanceler alemã, Angela Merkel, para uma conversa sobre a economia da zona do euro. Depois da campanha, é hora de enfrentar a realidade.