Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Mais um sinal de piora

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

A economia brasileira recuou de novo em outubro e o balanço final do ano apontará, na melhor hipótese, um crescimento próximo de zero, um dos piores desempenhos do mundo. O resultado será até mais feio que o da maior parte dos países da zona do euro, uma das mais atingidas pela crise iniciada em 2008. O quadro de estagnação no Brasil foi mais uma vez confirmado por um dado oficial. Em outubro a atividade econômica foi 0,26% menor que em setembro, descontados os fatores sazonais, segundo o índice produzido mensalmente pelo Banco Central (IBC-Br). Esse resultado foi 0,87% menor que o de igual mês de 2013. No ano, o índice ficou 0,09% abaixo do registrado de janeiro a outubro do ano anterior. O acumulado em 12 meses foi um crescimento de 0,26% na série dessazonalizada. Na série sem correção, ficou em 0,22%. Por qualquer das séries o resumo geral de 2014 será muito ruim. As bolas de cristal do mercado financeiro continuam mostrando números muito desfavoráveis. As projeções de crescimento encolheram para 0,16% na última pesquisa Focus, uma consulta a cerca de cem instituições publicada semanalmente pelo Banco Central. Quatro semanas antes ainda se estimava uma expansão de 0,21% para o Produto Interno Bruto (PIB). Não houve mudança, no entanto, na expectativa da produção industrial, mas isso está muito longe de indicar qualquer otimismo. A mediana das projeções continuou apontando uma redução de 2,5% em relação ao valor acumulado em 2013. A avaliação se harmoniza com os números da indústria conhecidos até agora e com a continuada diminuição do emprego industrial. Continuaram em queda, no entanto, as projeções para o saldo comercial - um reflexo do mau estado da indústria e de outros desajustes da economia brasileira, como a inflação bem superior à da maior parte dos países concorrentes. O persistente aumento de custos de produção tem sido uma grave desvantagem para os produtores instalados no Brasil. Quatro semanas antes a projeção do mercado apontava um superávit comercial de US$ 400 milhões. Na consulta de 5 de dezembro a estimativa já era de um resultado nulo. Na sondagem da sexta-feira passada a mediana das estimativas caiu mais uma vez e chegou a um déficit de US$ 1,6 bilhão. Mas esse resultado ainda vai depender de números mais favoráveis na segunda metade do mês. Até a segunda semana de dezembro, o saldo acumulado no ano foi um déficit de US$ 3,44 bilhões, segundo informou ontem o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A piora prevista para o resultado comercial afetou a projeção do saldo em conta corrente, isto é, da soma dos resultados do comércio de bens, das transações de serviços (como fretes e turismo), do balanço de rendas (onde entram os pagamentos de juros) e das transferências unilaterais (onde se incluem remessas para estudantes e dinheiro recebido de trabalhadores no exterior). Em quatro semanas o déficit previsto para esse conjunto passou de US$ 82 bilhões para US$ 85 bilhões. O investimento estrangeiro direto, segundo as projeções do mercado, ficará em US$ 60 bilhões. O resto do buraco será coberto com financiamentos mais instáveis e menos produtivos. Menos amplo e menos detalhado que as contas do PIB, divulgadas trimestralmente, o IBC-Br é, no entanto, um importante sinalizador de tendência. O sinal, por enquanto, é pouco estimulante: a economia continua muito fraca e os números do terceiro trimestre dificilmente serão melhores que os acumulados até setembro. No terceiro trimestre o PIB foi 0,1% maior que no segundo. Como o dado foi positivo, apontou o fim da recessão observada no primeiro semestre, mas essa melhora foi quase simbólica. Em quatro trimestres, a produção bruta foi 0,7% maior que a do período anterior. Mas no acumulado do ano ficou apenas 0,2% acima da contabilizada entre janeiro e setembro de 2013. A diferença entre os acumulados de quatro e de três trimestres indica uma perda de impulso. Nem botox tornará menos feio o balanço final do ano.