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Mais um tropeço econômico

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Por Redação
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A produção vai mal, o consumo fraqueja e o emprego industrial começa a ratear, segundo os indicadores econômicos de maio. Essas informações parciais foram completadas na sexta-feira com a divulgação do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado por analistas uma antecipação, imprecisa, mas útil, do Produto Interno Bruto (PIB) calculado a cada três meses pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse índice caiu 1,4% de abril para maio, já descontados os fatores sazonais. A média dos cinco primeiros meses foi 3,17% maior que a de janeiro a maio do ano passado, mas o crescimento acumulado em 12 meses ficou em apenas 1,89%. No mercado financeiro, os novos dados reforçaram as dúvidas sobre uma recuperação mais firme da economia nos próximos meses.O resultado, segundo fontes da equipe econômica do governo, teria sido menos ruim, em maio, sem o feriado de Corpus Christi. De acordo com esses técnicos, o IBC-Br teria caído 0,7%, se o feriado, como ocorre com maior frequência, tivesse caído em junho. Pode ser, mas ainda teria havido uma retração considerável da atividade. Teria sido menos acentuada, mas a inflexão negativa continuaria bem marcada. Esse ponto é especialmente importante porque o governo vinha apostando em dados positivos no segundo trimestre para marcar uma virada no quadro econômico. Nesta altura, a hipótese de um segundo trimestre bem melhor que o anterior está enfraquecida. O feriado pode ser a explicação para o recuo de certas atividades, mas é preciso outro fator para dar conta da redução do emprego industrial. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a queda foi de 0,5%, depois de alguns meses de estabilidade. No segmento de transformação o emprego caiu 0,2%, enquanto o número de horas de trabalho diminuiu 3,6%, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Mas o mesmo relatório aponta uma alta de 0,1% para o salário médio real e um aumento de 0,5% para o bolo de salários.As condições de emprego na indústria de transformação podem ser um bom indicador do estado de espírito e das expectativas do empresariado. Apesar do mau desempenho da economia nos últimos anos, os dirigentes da indústria evitaram demitir, ou demitiram muito moderadamente, por causa do alto custo do desligamento e também da escassez de mão de obra qualificada. Recompor os quadros para acompanhar a reativação econômica poderia ser difícil e especialmente custoso. O aumento das demissões no mês de maio pode ser mais um sinal de desânimo dos empresários. Divulgado o índice IBC-Br, avaliações e novas projeções foram anunciadas por instituições financeiras e consultorias. O economista Flávio Serrano, do Espírito Santo Investment Bank, chamou a atenção para a instabilidade dos dados - "praticamente uma gangorra", segundo ele. "Não temos trajetória consistente de expansão e esse é o pior dos mundos para os investimentos, principalmente em um cenário de inflação pressionada", acrescentou. O diretor de pesquisas para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, chamou a atenção para as incertezas, relacionadas em grande parte às possíveis respostas do governo às demandas apresentadas nas manifestações. A grande aposta na retomada do crescimento estava baseada, segundo lembrou, na expectativa de maiores investimentos, mas isso depende do sentimento dos empresários e dos consumidores. Há um risco crescente, segundo ele, de uma desaceleração da atividade, exatamente o oposto das previsões mais otimistas dos últimos meses. A retomada firme do investimento dependerá duplamente do governo - de sua competência para cuidar dos projetos de infraestrutura, tanto por sua conta quanto em parceria com o setor privado, e de sua credibilidade. Confiança na orientação do governo e, de modo especial, em sua disposição para respeitar regras e cumprir compromissos faz muita diferença quando se avaliam os riscos de um empreendimento.