Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Mantega analisa o risco externo

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, confessou-se apreensivo diante do risco de um calote americano, mas nem por isso abandonou a costumeira exibição de otimismo. O Brasil, segundo ele, é um dos países mais bem preparados para enfrentar um quadro internacional difícil, porque dispõe de mercado interno, sua economia é sólida e a inflação está controlada. Mesmo sem um desastre nos Estados Unidos, as condições do mercado externo continuarão desfavoráveis por vários anos, com baixo crescimento nas economias avançadas por causa de suas precárias condições fiscais. Quanto a isso a avaliação do ministro é realista. As contas públicas vão mal na maior parte do mundo rico e a dívida soberana é um entrave à expansão de muitos países - mesmo daqueles com baixo risco de insolvência. Mas o otimismo demonstrado pelo ministro em relação às possibilidades do Brasil é só em parte justificável. As condições fiscais do País são de fato melhores que as de muitos países desenvolvidos, mas estão longe de ser satisfatórias e poderão deteriorar-se, em pouco tempo, se o governo não moderar suas despesas e elevar seus padrões de gestão. A administração federal conseguiu no primeiro semestre um superávit primário - o dinheiro posto de lado para o pagamento de juros - de R$ 55,5 bilhões. Isso corresponde a 68% da meta fixada para o ano, mas o bom resultado deve-se mais ao rápido crescimento da arrecadação do que a um esforço de contenção de gastos. As pressões para maior gastança em 2012 serão muito fortes e a condução das finanças públicas será bem mais complicada, embora o secretário do Tesouro, Arno Augustin, se esforce para mostrar despreocupação.É cedo, além disso, para declarar vitória no combate à inflação. Analistas do mercado financeiro e de consultores continuam prevendo inflação bem acima do centro da meta: 6,3% em 2011 e 5,3% em 2012. Não estão sozinhos nessa expectativa pessimista. Seus colegas da Confederação Nacional da Indústria projetam para este ano uma alta de 6% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo, a referência oficial da política monetária. Essas projeções são baseadas na evolução recente dos preços, das condições do mercado internacional e das perspectivas da demanda interna, ainda impulsionada pelas boas condições de emprego, de renda e de crédito. O próprio vigor do gasto público ajudará a manter firme essa demanda. O otimismo quanto ao mercado nacional também é um tanto exagerado. O mercado interno de fato se expandiu nos últimos anos, com a elevação da renda familiar e a inclusão de milhões de novos consumidores. O ministro está certo ao chamar a atenção para essas novidades. Mas deveria lembrar também outros fatores muito importantes. O aumento da procura tem sido acompanhado de uma forte expansão das importações de bens intermediários e bens de consumo. Sem essas importações, as pressões inflacionárias teriam sido muito mais fortes. A expansão das compras externas decorreu em parte da valorização do real e em parte das dificuldades da indústria brasileira para expandir sua oferta. Não se pode manter o crescimento econômico por muito tempo na dependência do suprimento externo. O ministro Mantega reconhece a importância do problema do câmbio. Mais que isso: segundo ele, economias de grande peso internacional estão empenhadas numa guerra cambial, seja pela manipulação direta do câmbio, seja pela manutenção - no caso dos Estados Unidos - de uma política monetária amplamente expansionista. Na terça-feira, em reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o ministro voltou a falar sobre a possibilidade de novas medidas contra a valorização cambial. Talvez essas medidas produzam algum efeito a curto prazo, mas têm sido insuficientes para interromper a tendência de alta do real. O País necessita de outras providências para melhorar a competitividade e aumentar a capacidade interna de produção. O governo reconhece esse fato, mas pouco tem feito para passar das palavras à ação.