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Melhorar a comunicação

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Por Redação
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Diante da complexidade do atual cenário político, era previsível que o novo governo encontrasse dificuldades, especialmente no período de interinidade, enquanto não se conclui no Senado o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A divulgação dos áudios gravados pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado trouxe problemas adicionais a esse início de governo, provocando a saída de Romero Jucá do Ministério do Planejamento e, mais recentemente, a demissão de Fabiano Silveira do Ministério da Transparência.

Essas dificuldades não desculpam, no entanto, a má qualidade da comunicação com o público do governo interino. O governo pode e deve comunicar-se melhor, justamente por causa do cenário político para lá de complexo. Se é preciso comunicar-se bem no plano internacional, esclarecendo os fatos e desconstruindo a versão de golpe que alguns irresponsáveis vêm tentando propagar mundo afora, muito mais necessário é comunicar-se bem internamente. E aqui o governo vem perdendo feio por sua exclusiva responsabilidade.

Exemplo dessa comunicação falha ocorreu na troca de comando do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Sem uma informação de quem cabia nomear – no caso, o Ministério do Planejamento –, foi necessário o próprio indicado ao posto, o economista Paulo Rabello de Castro, anunciar a mudança à então presidente, Wasmália Bivar. Isso acarreta desnecessários constrangimentos tanto a quem entra quanto a quem sai do cargo. E dá ao público a lamentável impressão de que o governo é um barco desgovernado. Para piorar, a assessoria de imprensa do IBGE informou que não havia recebido nenhum comunicado do Ministério do Planejamento sobre a mudança no comando do órgão.

Situação semelhante de falta de informação ocorreu na troca de comando do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), do qual Ernesto Lozardo é o novo presidente, em substituição a Manoel Pires. Como é lógico, o novo governo tem todo o direito de nomear pessoas de sua confiança para os cargos de direção da administração federal, mas tem também o dever de informar adequadamente sobre essas mudanças. Não há proveito em criar mais complicações nesse momento em que não apenas há uma crise política – o que já seria motivo suficiente para extremar a prudência e a competência profissional na comunicação pública –, mas também uma delicada situação econômica e social. Saem caros esses descuidos.

A população deu inequívocas demonstrações de apoio ao afastamento da presidente Dilma Rousseff. Além de esperar um basta na corrupção que por tantos anos teve amplos espaços na administração federal, a sociedade entendeu que Temer no exercício da Presidência poderia promover uma guinada no governo capaz de tirar o País da crise. Ou seja, a sociedade depositou no governo de Michel Temer suas esperanças de um melhor cenário moral e econômico. Não há dúvidas de que Michel Temer tem procurado corresponder à altura a esse voto de confiança. Se cabem críticas à sua atuação – e certamente cabem –, também é evidente sua diligência em promover as necessárias mudanças no rumo do governo. Prova cristalina é seu empenho na formação de sua invejável equipe econômica e na caprichada nomeação das chefias das principais estatais. Essa diligência, todavia, não é suficiente. É preciso urgentemente que o governo comunique melhor o que faz no âmbito da própria administração pública, bem como com a sociedade em geral.

Membros do governo têm afirmado a necessidade de uma agenda positiva, que contribua para desviar o foco de algumas notícias negativas. Certamente ajudará o anúncio correto e oportuno de medidas adotadas pela equipe de Michel Temer – afinal, a população espera que o governo governe –, assim como será muito útil esclarecer à população a lamentável situação na qual o País foi deixado pela administração petista. Tudo isso ainda está por ser feito.