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Menor velocidade nas ruas

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Por Redação
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A pressa dos motoristas e a ansiedade dos pedestres e ciclistas deverão diminuir onde a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) instalou a chamada Área 40. Em algumas áreas do centro, Lapa, Santana, Moema e Penha, a velocidade máxima permitida aos veículos é de 40 quilômetros por hora. É uma tentativa de reduzir a imprudência e, consequentemente, os acidentes e as mortes por atropelamento. Essa medida de segurança no trânsito chega com atraso à cidade que concentra a maior frota do País e registra estatísticas assustadoras de mortes em acidentes: em 2013, 1.152 pessoas perderam a vida nas ruas da capital, uma média de três por dia. Os atropelamentos são responsáveis por 44,6% dos óbitos. Somados aos de motociclistas (403) e de ciclistas (35), esse índice chega a 80% das mortes registradas no trânsito paulistano. Em 1963, o estudo Traffic in Towns, apresentado na Inglaterra, estabeleceu a relação entre o crescimento do tráfego e os riscos à vida segura nas cidades e salientou a necessidade de prever nos planos de transporte limites à utilização dos veículos automotores. Vinte anos depois, a pequena cidade alemã de Buxtehude instalou a primeira Zona 30, iniciativa que se espalhou pela Europa, com drástica redução no número de acidentes e mortes. A redução do limite de velocidade tem comprovadamente efeitos positivos. Estudos realizados por vários centros de pesquisa do mundo, como o Observatório de Segurança Viária da Espanha, mostram que nos atropelamentos que envolvem carro trafegando a 30 km/h, 30% das vítimas saem ilesas, 5% morrem e 65% ficam feridas. Se o veículo estiver a 50 km/h, o total de ilesos cai para 5%, o de mortes sobe para 45% e o de feridos, para 55%. A 65 km/h, não há chance de alguém sair ileso. Das vítimas, 85% morrem e 15% ficam feridos. A 80 km/h o risco de morte é total. Análise realizada em Londres pelo British Medical Journal mostrou que a instalação das Zonas 30 trouxe redução de 41,9% no número de acidentes de trânsito. Áreas com grande circulação de pedestres, comércio concorrido, faixas exclusivas de ônibus e ciclovias exigem restrição à circulação. E cidades que instalaram as zonas de baixa velocidade para veículos automotores passaram a contar com cruzamentos seguros, redução do volume de tráfego, diminuição da emissão de gases de efeito estufa e da poluição sonora. Dados da CET mostram que a Subprefeitura da Sé é a que concentra o maior número de mortes em acidentes de trânsito entre todas as unidades administrativas da capital. Portanto, acertou a CET ao incluir, na Área 40, as Avenidas Cásper Líbero, Rio Branco, São João, Ipiranga, 9 de Julho, Brigadeiro Luís Antonio, Liberdade e Rua da Consolação, num total de 2,4 quilômetros quadrados de vias. O número de mortes nas ruas da capital caiu 6,4% em 2013 em relação ao ano anterior e, segundo a CET, a queda é resultado de maior fiscalização eletrônica, da Lei Seca e do Programa de Proteção ao Pedestre, iniciado em maio de 2011. Entre 2005 e 2013, todos os tipos analisados de acidentes apresentaram queda nos índices de mortes, à exceção do de motociclistas, com aumento de 16,8% no período, o mesmo em que a frota de motocicletas cresceu 102% em São Paulo. Mas o total de mortes e feridos no trânsito da capital ainda é alto demais. Portanto, mais que de radares e fiscais de trânsito multando quem ultrapassa o limite de velocidade, seja ele qual for, a CET deve cuidar de outras medidas que levem à redução da violência no trânsito. Investimentos na melhor formação dos motoristas, motociclistas e ciclistas e na educação dos pedestres são exigidos desde que o Código de Trânsito Brasileiro entrou em vigor, mas ainda estão muito aquém do necessário. A melhoria do sistema de transporte público na capital também deveria ser acelerada para reduzir o uso do automóvel e, consequentemente, a disputa pelas ruas da cidade.A fiscalização - por meio de equipamentos eletrônicos ou por agentes de trânsito - é necessária, mas não suficiente para disciplinar o trânsito e torná-lo menos perigoso.