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Menos vigor no consumo

Em fevereiro, o volume de vendas no varejo restrito foi 0,2% menor que no mês anterior e voltou ao nível de setembro

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Por Redação
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A aposta em mais um corte de juros foi reforçada pelos novos números, um tanto fracos, do comércio varejista. A recuperação continua, com crescimento de 2,8% em 12 meses, mas em velocidade menor do que até o fim do ano. Já havia razões para mais um estímulo de crédito à recuperação dos negócios. Argumentos a favor dessa medida ficaram ainda mais convincentes depois das últimas informações sobre o consumo. As vendas continuam mais altas que as de um ano antes, mas as famílias parecem ter ficado mais cautelosas na ida às lojas e aos supermercados. O desemprego ainda alto pode ser um dos motivos. Em fevereiro, o volume de vendas no varejo restrito foi 0,2% menor que no mês anterior e voltou ao nível de setembro. Somando-se ao varejo restrito os materiais de construção, veículos e componentes, chega-se ao ampliado. Neste caso, o resultado foi 0,1% inferior ao de fevereiro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Nas duas categorias, o volume vendido foi maior que no segundo mês de 2017 – 1,3% no comércio varejista restrito, 5,2% no ampliado. Inflação abaixo de 3%, com algumas das menores taxas mensais desde o início do Plano Real, em 1994, é certamente uma das explicações. Outro fator favorável tem sido a expansão do crédito às pessoas físicas. Este detalhe ajuda a entender o aumento das vendas de bens de alto valor unitário. O número de veículos e componentes vendidos em 12 meses foi 7,1% maior que no período imediatamente anterior. No de móveis e eletrodomésticos o aumento foi de 10,4%. Na comparação com o mês correspondente de 2017, a variação positiva das vendas do varejo restrito foi a 11.ª consecutiva. No caso do varejo ampliado, foi a 10.ª.

A melhora das condições de emprego continua condicionando – e limitando – a recuperação do consumo. Ainda há 13,1 milhões de desempregados e muito emprego precário, sem carteira assinada, lembrou a coordenadora da pesquisa do IBGE sobre serviços e comércio, Isabella Nunes. Mas, apesar dos tropeços na reativação do comércio varejista, a produção industrial continua avançando, puxada tanto pela demanda interna quanto pelas oportunidades de exportação.

Com esse avanço, a capacidade ociosa vem diminuindo sensivelmente no setor industrial. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o setor de transformação opera desde novembro com cerca de 78% da capacidade instalada, nível superior ao dos 20 meses precedentes. Sondagem da Fundação Getúlio Vargas (FGV) também aponta maior aproveitamento do potencial produtivo, embora com números pouco menores. De acordo com dados de março da FGV, o uso da capacidade chegou a 76,1%, a maior taxa observada desde maio de 2015.

Pelos dados do IBGE, a indústria geral produziu em fevereiro 0,2% mais que em janeiro e 2,8% mais que um ano antes. No bimestre, a produção foi 2,8% superior à dos primeiros dois meses de 2017. O crescimento acumulado em 12 meses chegou a 3%. A atividade continua distante do nível anterior à crise, mas o avanço é inegável. Isso é muito importante para a dinamização de outros segmentos da economia e para a geração – ainda lenta – de empregos formais e de remuneração mais alta.

De toda forma, a reativação industrial já é suficiente para justificar, em algumas áreas, planos de investimento em capacidade produtiva. Segundo a CNI, cerca de metade das indústrias voltou ao padrão histórico de uso da capacidade ou está muito perto disso. Alguma reposição ou substituição de máquinas e equipamentos ocorre desde o ano passado. A tendência é confirmada pelo aumento da produção e da importação de bens de capital.

Mas o investimento, apesar do início de recuperação, continua baixo. O esforço de ampliação da capacidade ainda vai depender da aceleração do consumo e, talvez, de um estímulo maior do comércio exterior. Juros mais baixos poderão ajudar e quase certamente serão anunciados pelo BC em maio, na próxima reunião de seu Comitê de Política Monetária.