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Mortes no trânsito

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Por Redação
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O problema dos acidentes de trânsito com mortes na capital só tem aumentado, numa clara demonstração de que, nesse aspecto de grande importância, a ação da atual administração municipal deixa muito a desejar. Segundo reportagem do Estado, um estudo da Prefeitura mostra que em 2014 chegou a três o número de pessoas mortas ou feridas, a cada hora, em decorrência desse tipo de acidente, o que dá uma ideia da gravidade da situação.

O número de mortos aumentou 8,4% entre 2013 e 2014, passando de 1.152 para 1.249, segundo dados da Companhia de Engenharia de Tráfego. Ao classificar como “assustadora” essa estatística, o chefe do Departamento de Medicina do Tráfego Ocupacional da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, Dirceu Rodrigues Alves Junior, descreve com precisão o que se passa na capital e aponta o tamanho do desafio que se apresenta para a Prefeitura.

É também ele que chama a atenção das autoridades para alguns dos aspectos principais do problema – a responsabilidade de pedestres e de ciclistas, além dos motoristas evidentemente; a formação deficiente destes últimos; e tudo isso agravado ultimamente pela utilização do telefone celular, que desvia a atenção de quem dirige. Se cada um desses itens apontados tivesse merecido mais cuidados dos que sobre eles têm responsabilidade, as coisas certamente não teriam chegado ao ponto a que chegaram.

O caso dos pedestres ilustra bem a forma equivocada com que questões da maior importância no que se refere à segurança do trânsito têm sido tratadas. A necessidade de protegê-los, porque são a parte mais fraca de todas as envolvidas na questão, sempre foi por isso mesmo indiscutível. Em princípio, portanto, foi acertada a decisão tomada em 2011 pelo então prefeito Gilberto Kassab de intensificar as campanhas destinadas a reduzir o número de acidentes de que eles são vítimas, atropelados por carros, motos, ônibus e caminhões.

Infelizmente, medidas então adotadas, como o Programa Travessia Segura, ficaram pela metade. Trataram de apenas um dos lados da questão, a dos direitos dos pedestres, descuidando de suas obrigações, igualmente importantes para sua segurança, como as de respeitar o sinal que orienta sua conduta e de atravessar as ruas sempre dentro da faixa. O resultado é que os pedestres passaram a fazer o que bem entendem, como se todos devessem se dobrar a seus caprichos, o que limitou o alcance do programa e chegou mesmo, em muitos casos, a aumentar os perigos a que eles se expõem. Uma situação que só tem se agravado desde então, com pessoas de todas as idades agindo sem o menor cuidado.

A situação dos ciclistas é muito semelhante. O governo de Fernando Haddad repete com eles o erro de Kassab com os pedestres. A pretexto de que os ciclistas são vulneráveis – o que é verdade –, eles passaram a ser tratados como seres especiais, acima das leis. Só têm direitos, não deveres, embora estes, também como no caso dos pedestres, tenham sido criados antes de mais nada para sua proteção.

Em São Paulo, o endeusamento dos ciclistas pela atual administração, com intenção claramente demagógica, faz com que eles, em geral, ajam com incrível irresponsabilidade. Suas bicicletas não têm farolete, eles não usam capacete e, com frequência, andam na contramão e furam sinais. Ou seja, metem-se em situações de alto risco. Como se isso não bastasse, ainda trafegam com imprudência pelas calçadas, colocando em risco a integridade dos pedestres. Em outras palavras, fazem com estes o que se queixam que os motoristas fazem com eles.

A propósito do elevado número de vítimas de acidentes, um especialista em questões de trânsito e transporte urbano, Horácio Augusto Figueira, adverte com razão que “a ação educativa sempre tem de ser associada à fiscalização”. O que sobra em fiscalização – como atesta a arrecadação sempre crescente com multas – falta em educação de motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres. Infelizmente a dinheirama das multas – mais de R$ 800 milhões em 2014 – continua não sendo bem aplicada. É tudo isso que explica a mortandade no trânsito.