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Nem contra, nem a favor

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Por Redação
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Eduardo Cunha é tenaz, obstinado, inescrupuloso a ponto de usar em benefício próprio todo o poder que a Presidência da Câmara lhe confere, mas acaba de receber um golpe que pode lhe custar o cargo e o mandato: informal, mas efetivamente, o PT decidiu fugir de um abraço de afogados e liberar sua bancada, a começar por seus três representantes no Conselho de Ética, para votar contra Cunha no processo que poderá condená-lo por quebra de decoro parlamentar. A sorte agora não parece sorrir para o líder peemedebista, que por excesso de confiança se recusou a aprender que o brasileiro não é idiota e não tolera a mentira.

Não houve reunião de diretoria no PT, Rui Falcão não precisou divulgar nenhuma nota oficial destilando ódio contra as elites e Lula fingiu-se de morto, como faz sempre que percebe que é impossível sair bem na foto. Ocorre simplesmente que até na má política há momentos em que o óbvio se impõe como um fenômeno da natureza. Não dava mais para o PT de Dilma manter em cena aberta o jogo duplo do troca-troca com Cunha: eu garanto o seu mandato, você garante o meu.

É claro que continua interessando ao governo petista contar com a boa vontade do presidente da Câmara para a tramitação das propostas do pacote de ajuste fiscal que ainda não foram aprovadas. Até agora o Planalto tem-se saído bem nessa questão, muito por conta de seu novo núcleo político que estabeleceu com Cunha um discreto compromisso mútuo de não agressão. Mas tudo tem limite e do lado do PT esse limite foi atingido quando seus deputados se deram conta de que o custo político-eleitoral do apoio ostensivo a Cunha nas votações da Casa seria extremamente alto. E, afinal, essa não é a única moeda de troca para um “entendimento” com um líder político que tem, digamos assim, múltiplos interesses.

O resumo da ópera é que daqui para a frente a bancada petista na Câmara, para ficar bem com Cunha e satisfazer o Planalto, que não quer problemas com o parlamentar fluminense, continuará batendo na tecla do “direito à ampla defesa” no Conselho de Ética e, se necessário, no plenário.

E, para ficar bem com o eleitorado, os três representantes do partido no Conselho de Ética – Léo de Brito (AC), Valmir Prascidelli (SP) e Zé Geraldo (PA) – anunciaram que votarão contra Cunha na questão da admissibilidade do processo instaurado contra ele por quebra de decoro parlamentar. Afinal, como disseram deputados petistas em reunião na noite de segunda-feira com o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, “pega muito mal para o PT” um acordo ostensivo com Cunha.

Coube a Prascidelli – que na quinta-feira passada só apareceu na reunião do Conselho de Ética quando o quórum para a abertura da sessão já havia sido atingido – verbalizar a posição oficial dos petistas, após encontro com o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini: “A tendência é que a gente vote favorável à continuidade do processo. Há acusações contundentes e o processo correndo no Judiciário contra Eduardo Cunha. A Câmara não pode deixar de mostrar sua condição de Poder instituído para analisar isso. O fim do processo significaria a Câmara se omitir, e isso seria ruim para a Casa”.

No Palácio do Planalto, o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, negou que o governo tenha orientado a bancada petista a votar a favor ou contra Cunha: “Nossos deputados têm total autonomia”. Outro assessor da presidente da República tentou explicar a explicação, garantindo que, de fato, o governo petista não se posiciona nem a favor nem contra Eduardo Cunha, muito ao contrário: “Não há uma operação deliberada para protegê-lo, como também não há uma operação deliberada para cassá-lo”. E acrescentou: “Há ações pontuais ocorrendo, porque o governo precisa ver os projetos de seu interesse aprovados. Não podemos jogar no quanto pior, melhor”.

Muito pior, de qualquer modo, fica a posição de Eduardo Cunha. Tudo porque a imagem de mentiroso, quando cola, não desgruda. Dilma Rousseff que o diga.