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Nos preços, sinais alentadores

A inflação medida pelo IPCA teve alta de 0,96% de janeiro a março, bem menor do que o avanço de 2,62% registrado em igual período do ano passado

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Por Redação
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O fato de a inflação acumulada nos três primeiros meses do ano ser a menor de um primeiro trimestre desde o lançamento do Plano Real, em 1994, mostra como está sendo favorável o comportamento médio dos preços. A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) calculado pelo IBGE teve alta de 0,96% de janeiro a março, bem menor do que o avanço de 2,62% registrado em igual período do ano passado. Já a alta de 0,25% observada em março é a menor para o mês desde 2012, quando alcançou 0,21%. Somada ao ainda fraco desempenho da economia, a tendência de baixa de inflação fortalece as expectativas de que, na próxima reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) aprovará novo corte expressivo da taxa básica de juros, a Selic, hoje fixada em 12,25% ao ano.

Embora a variação acumulada no período de 12 meses encerrado em março tenha sido de 4,57%, são evidentes os fatores que mostram que, no ano, a inflação ficará abaixo, provavelmente bem abaixo, da meta de 4,5% fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e que baliza a política monetária conduzida pelo Copom. A inflação acumulada de 12 meses deverá ser inferior à meta já em abril, e a tendência é que continue a diminuir nos próximos meses.

“É mais ou menos óbvio que sim”, disse a coordenadora de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, a respeito da possibilidade de o IPCA acumulado de 12 meses até abril ser menor que 4,5%. De abril a agosto do ano passado, a inflação mensal foi muito alta. Os números mensais de 2016 serão substituídos por variações bem menores neste ano, de modo que o resultado acumulado de 12 meses tende a ser declinante nos próximos meses.

Uma simples comparação entre as variações recentes da Selic e do IPCA acumulado de 12 meses mostra a rápida ampliação da distância entre esses dois importantes indicadores, e consequentemente do juro real. Em março do ano passado, a Selic estava fixada em 14,25% ao ano (essa taxa vigorou de julho de 2015 a outubro de 2016), enquanto a variação acumulada do IPCA em 12 meses alcançava 9,38%. A redução da Selic começou no fim do ano passado, mas a queda tem sido bem mais lenta do que a do IPCA.

Mesmo com a esperada redução a ser decidida pelo Copom nos próximos dias – provavelmente para 11,25% ao ano, de acordo com as projeções predominantes no mercado financeiro –, a taxa básica continuará muito acima da inflação de 12 meses, de menos de 4,5% já em abril.

A rápida redução da inflação, que retira do cenário econômico o que até há pouco era um importante fator de perturbação, tem, no entanto, uma faceta negativa que foi observada pela funcionária do IBGE responsável pelos índices de preços. “O primeiro trimestre do ano mostra, claramente, um efeito demanda”, disse Eulina dos Santos. “A renda do brasileiro está diminuindo, o desemprego está aumentando, e isso se reflete instantaneamente sobre o comércio, sobre os preços, com dificuldades de vários agentes econômicos para repassar alguns custos represados.”

Lenta e de maneira ainda esparsa, a economia vem dando sinais de recuperação, quadro que, se ganhar vigor, propiciará a reversão do cenário desolador do mercado de trabalho. É um cenário marcado pela existência de 13,5 milhões de desempregados, o dramático retrato social da herança deixada pela aventura lulopetista. Há indicações de que os investimentos em máquinas, equipamentos e material de construção voltaram a crescer, o que tende a aumentar a capacidade produtiva e a estimular a contratação de mão de obra. Embora ainda modesta, a recuperação da indústria se espalha por diferentes segmentos.

A consolidação da recuperação econômica, no entanto, está condicionada ao avanço das reformas que assegurem a estabilização das finanças públicas e da economia. Mais do que à inflação, a retomada agora está condicionada à sensatez e à responsabilidade dos políticos.