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O Brasil e a crise dos ricos

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Por Redação
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Desta vez a crise da dívida está centrada no mundo rico, mas seus efeitos poderão afetar também as economias emergentes, alerta o Banco de Compensações Internacionais (BIS), de Basileia, conhecido como "banco central dos bancos centrais". A advertência aparece num estudo recém-divulgado sobre os impactos do risco de crédito soberano. Já estava formulada quando a turbulência atingiu o mercado e os bancos italianos e agora parece mais oportuna do que nunca. Nenhum país europeu está imune ao contágio dessa crise. Do outro lado do Atlântico Norte, o presidente Barack Obama e parlamentares da oposição discutem o futuro de uma dívida de US$ 14,3 trilhões já encostada no teto legal do endividamento público. Se alguém ainda acha divertido ver os governos do mundo rico em apuros, só pode ser por absoluta imprudência ou desinformação. A cada novo dia o perigo parece mais próximo dos países emergentes e em desenvolvimento. As novas preocupações com o risco soberano, isto é, com o risco associado à dívida pública, podem afetar países de qualquer parte do mundo. De modo geral, os prêmios de risco devem ser mais altos, nos próximos tempos, do que têm sido até agora, segundo a análise publicada pelo BIS. Os países do mundo rico tendem a ficar mais expostos a problemas de financiamento por causa de seus elevados déficits fiscais. No mundo emergente, o risco de crédito soberano tem refletido, tradicionalmente, a vulnerabilidade a choques externos e à instabilidade política. Nas condições atuais do mercado, o aparecimento ou reaparecimento de qualquer desses problemas poderá ter consequências especialmente graves. Desde o agravamento da crise financeira, no segundo semestre de 2008, o desempenho econômico da maior parte dos emergentes foi muito melhor que o dos países do mundo rico. Os bancos das economias emergentes e em desenvolvimento estavam menos envolvidos em operações de alto risco. Suas contas públicas estavam em melhores condições, depois de alguns anos de ajuste. Suas contas externas estavam equilibradas ou até com superávit. Essas eram as condições da maior parte dos países da América do Sul, a começar pelo Brasil. Mas o cenário mudou nos últimos dois anos. A economia do Brasil e de vários outros emergentes tornou-se perigosamente aquecida. As pressões inflacionárias aumentaram. No caso brasileiro, os gastos do governo continuaram crescendo praticamente sem controle, em boa parte alimentados por uma receita tributária em contínua expansão. As importações se elevaram rapidamente, impulsionadas pela demanda interna e pela valorização cambial. O superávit comercial foi corroído e alguns países - notadamente o Brasil - passaram a ser deficitários na conta corrente do balanço de pagamentos. No caso brasileiro, o déficit deste ano está estimado no mercado financeiro em US$ 60 bilhões. Para o próximo ano, a projeção é de um buraco de US$ 70 bilhões. Se o cenário global piorar, o financiamento desse déficit poderá complicar-se, por causa do aumento da aversão ao risco no mercado financeiro. Além disso, as condições do comércio internacional poderão piorar muito, se o ajuste nas grandes economias envolver uma nova redução do crescimento econômico ou, na pior hipótese, uma nova recessão nos Estados Unidos ou na Europa. Nesse caso, a competição com os países líderes em exportações, a começar pela China, ficará muito mais difícil em todos os mercados, incluído o sul-americano. Diante de um cenário internacional confuso e marcado por muita turbulência nos mercados financeiros, um governo prudente cuidaria de reduzir a vulnerabilidade da economia nacional. A primeira medida seria planejar seus gastos com maior atenção, em busca de moderação e eficiência. Cuidaria também de atacar os focos de inflação e de conter as pressões sobre o balanço de pagamentos, para diminuir a dependência do financiamento externo. Até agora o Brasil foi pouco afetado pelo recrudescimento da crise financeira. Mas é bom preparar o País para riscos maiores.