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O Brasil perde o bonde

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Por Redação
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De mal a pior, a economia brasileira vai encolher 1,97% neste ano e continuar atolada por um bom tempo, com crescimento zero em 2016. Estas são as novas projeções do mercado financeiro, recolhidas na pesquisa Focus do Banco Central (BC). Na semana anterior ainda se previa uma queda de produção de 1,80% em 2015, seguida de um modestíssimo avanço de 0,20% no ano seguinte. Agora, nem isso. Há um acordo entre economistas nacionais e estrangeiros quanto a esse ponto. No Brasil, os negócios têm sido mais fracos do que se previa há alguns meses, devem ainda perder vigor e decepcionar quem esperava uma reanimação, mesmo lenta, no segundo ano do novo mandato da presidente Dilma Rousseff.

Analistas internacionais, no entanto, acrescentam um detalhe negativo a esse panorama já muito ruim. O Brasil continuará perdendo participação na atividade global, porque as economias mais importantes continuam bem mais dinâmicas e com melhores perspectivas de expansão.

O mais novo cenário, com perspectivas favoráveis para a maior parte dos países desenvolvidos e boa parte dos emergentes, foi divulgado ontem pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A China é uma das exceções e esse é um dado especialmente ruim para o Brasil, muito dependente do mercado chinês para suas exportações de produtos básicos.

O impulso de crescimento deve permanecer estável neste semestre na Alemanha, no Japão e na Índia, ganhar força na França e na Itália e também na média dos países da zona do euro. Deve diminuir no Reino Unido, nos Estados Unidos, na China e no Brasil. As projeções são baseadas nos chamados indicadores antecedentes, dados normalmente usados para a identificação de tendências, como as condições de crédito, a confiança dos consumidores e a evolução dos investimentos.

Mesmo com alguma acomodação, os Estados Unidos e o Reino Unido continuarão entre os países desenvolvidos com melhor desempenho. As condições da Rússia devem permanecer constantes, mas num ritmo abaixo da tendência de longo prazo. As dificuldades da Rússia – com perspectiva de recessão neste ano – estão associadas à baixa dos preços do petróleo, principal produto de exportação, e às sanções impostas pelas grandes potências ocidentais por causa do conflito com a Ucrânia.

Na China, ainda com perspectiva de crescimento acima de 6% neste ano, vários indicadores pioraram nos últimos meses. Segundo as mais novas informações sobre o comércio, posteriores à última avaliação da OCDE, as exportações de julho foram 8,3% menores que as de um ano antes. Sobre a mesma base, as importações diminuíram 8,1%.

No caso do Brasil, como no da China, os últimos indicadores coletados, ainda de junho, apontaram, segundo o informe da OCDE, um enfraquecimento mais grave que o estimado anteriormente. A perda de impulso da economia brasileira, depois de quatro anos de baixo dinamismo, é explicável principalmente por fatores internos. Mas a perda de ritmo da China também produz efeitos importantes no Brasil. Esses efeitos sã0 visíveis nas contas externas do último ano e, muito especialmente, nas de janeiro a julho de 2015.

Nesse período, as vendas brasileiras para a China, de US$ 22,58 bilhões, foram 19,4% menores, pela média dos dias úteis, que as dos sete meses correspondentes de 2014. A redução foi bem maior que a do valor médio da exportação, de 15,5%. A receita geral proporcionada pelos produtos básicos, de US$ 56,06 bilhões, ficou 21,7% abaixo da obtida de janeiro a julho do ano passado. Produtos básicos formaram 85,1% das vendas para o mercado chinês, neste ano, proporção muito parecida com a de todo o ano passado, de 84,4%. O acúmulo de erros da política industrial e da diplomacia comercial petista impede o Brasil de aproveitar plenamente a recuperação das economias desenvolvidas e o mantém numa perigosa dependência da China.