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O Brasil vulnerável

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Por Redação
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O Brasil sobressai, mais uma vez, pelo estado ruim de sua economia, com recessão no primeiro semestre, contas públicas em más condições, inflação elevada e risco de agravamento das expectativas inflacionárias. Esses problemas são citados em documento preparado por técnicos do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a reunião do Grupo dos 20 (G-20) em Cairns, Austrália, marcada para sábado e domingo. Será um encontro de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais. O documento - Perspectivas Globais e Desafios para a Política - resume a evolução recente da economia mundial, aponta os próximos grandes problemas e propõe estratégias para os vários grupos de países. Segundo os autores do estudo, o Brasil poderá precisar de juros mais altos, se piorarem as expectativas de aumento dos preços.No Brasil, dirigentes do Banco Central (BC) já deixaram clara a intenção de manter os juros básicos em 11%, evitando reduzi-los enquanto a inflação se mantiver alta e resistente. Esse foi seu recado principal na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), responsável pela estratégia de contenção da alta de preços. Não parecem ter considerado, por enquanto, a hipótese de novo aumento dos juros.A mera referência a essa possibilidade envolveria um confronto entre a autoridade monetária e a presidente Dilma Rousseff - algo quase impensável, especialmente em período de eleição. Apesar do cuidado, a ata deixou claro, no entanto, o reconhecimento da inflação como um problema grave.A economia global perdeu impulso no primeiro semestre e deve crescer menos do que o previsto em abril, mas a recuperação continua e deve ganhar força, de acordo com os economistas do FMI. Mas haverá desafios importantes. No mundo rico, será preciso manter o apoio financeiro aos negócios e atenuar o ajuste das contas públicas, onde for possível, para sustentar a reativação em 2014 e 2015. A arrumação das finanças públicas poderá ser concluída em prazo mais longo. As políticas monetárias poderão seguir caminhos diferentes, com normalização progressiva nos Estados Unidos (a caminho de um aumento de juros) e condições ainda frouxas na Europa e no Japão. Tensões geopolíticas - referência aos conflitos no Oriente Médio e à crise entre Rússia e Ucrânia - tornam o cenário mais inseguro.A mudança na política monetária americana, com redução dos estímulos e, em algum momento, nova escalada dos juros, é apontada como um importante fator de risco para os emergentes. Os governos desses países devem esforçar-se para aumentar a segurança contra choques financeiros. O próximo aumento dos juros básicos nos Estados Unidos poderá ocorrer em 2015. A tendência já é de piora das condições de financiamento internacional. Essa expectativa já está, ou deveria estar, há tempos na agenda dos governos mais previdentes, mas os técnicos do FMI se abstiveram de incluir esse detalhe no texto.Os governos dos emergentes, de acordo com a recomendação, deverão recompor os amortecedores e consertar os pontos vulneráveis. Terão de reforçar as contas públicas, avançar em reformas e investir onde for necessário - especialmente na infraestrutura - para aumentar o potencial de crescimento econômico. Redução desse potencial, segundo estudos do FMI, tem ocorrido em todos os grupos de economias.No Brasil, a economia fraca, gerando menor arrecadação, tornará mais difícil chegar à meta fiscal, segundo o documento. Traduzindo: será mais complicado produzir o superávit primário previsto para o pagamento de juros (um saldo de R$ 80,7 bilhões só no caso do governo central). Apesar disso, o governo deveria manter o esforço para alcançar a meta "com políticas sustentáveis", procurando baixar sua dívida bruta. Detalhe: a dívida bruta calculada pelo critério do FMI é maior que a declarada pelo governo. Como complemento indispensável, será preciso cuidar da inflação e das expectativas. A questão da confiança é ressaltada no documento. No Brasil, é um problema visível no dia a dia.

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