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O confronto no G-20

Donald Trump versus maioria do G-20 é o programa de luta previsto para o fim de semana

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Por Redação
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Donald Trump versus maioria do Grupo dos 20 (G-20) é o grande programa de luta previsto para este fim de semana. Se o presidente americano chegar com a disposição exibida em seus pronunciamentos contra a imprensa, o combate será acirrado. A chanceler alemã, Angela Merkel, seus aliados mais importantes e os dirigentes das principais entidades multilaterais deverão insistir num tema duplo: consertar a globalização e intensificar a cooperação internacional em todos os campos, especialmente na economia e na proteção ambiental. Trump continua comprometido com as bandeiras levantadas em sua campanha eleitoral: protecionismo, contestação da autoridade da Organização Mundial do Comércio (OMC) e rejeição do Acordo de Paris e de outros compromissos – externos e internos – de combate ao aquecimento global e, de modo mais amplo, de preservação do ambiente. Suas palavras e suas iniciativas governamentais, até agora, indicam o rumo oposto.

Nesse ambiente de confronto entre as maiores potências, o presidente Michel Temer será provavelmente muito mais um espectador do que um jogador envolvido nos lances principais. Mas poderá fazer algo relevante para o País, se defender o ingresso do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), contra a nova orientação do governo americano, agora contrário à abertura do clube a novos sócios. Além disso, o presidente brasileiro tentará, batendo ponto na reunião, transmitir a ideia de normalidade na vida política brasileira.

O presidente da OMC, Roberto Azevêdo, pedirá aos participantes do encontro, em Hamburgo, um esforço adicional para evitar a multiplicação de medidas protecionistas e, além disso, para fortalecer o sistema de intercâmbio baseado em regras acordadas e respeitadas por todos. O mesmo apelo aparece em documento preparado pela equipe do Fundo Monetário Internacional (FMI). Um sistema baseado em regras é vital para a prosperidade de todos, diz o relatório, e é preciso ampliar os acordos e mantê-los atualizados em relação a novas formas de negócios.

Essas mensagens valem para todos, mas são obviamente dirigidas de forma especial ao governo dos Estados Unidos. Diplomatas americanos têm procurado atenuar o discurso protecionista de seu chefe, mas seu esforço é neutralizado por informações originárias do próprio governo, em Washington. Tem-se falado, por exemplo, no uso de argumentos vinculados à segurança nacional para justificar a proteção a alguns setores, como o siderúrgico.

A pauta da reunião de cúpula das maiores economias do mundo é ampla e ultrapassa, como de costume, os temas ligados a comércio, finanças, investimentos, emprego e crescimento da produção. Outros grandes assuntos, como a preservação ambiental e o combate ao terrorismo serão debatidos. Pelo menos em relação ao terrorismo as posições do governo americano deverão, segundo expectativa indicada por analistas, ser menos conflitantes com as dos demais.

Na parte econômica, a defesa da globalização será um tema importante, como já era antes da eleição de Trump. Mas essa defesa tem sido acompanhada há algum tempo, nos debates das entidades multilaterais, por uma crítica da experiência acumulada até agora e por propostas de mudanças.

Documentos do FMI têm sido enfáticos na defesa de processos mais includentes de modernização econômica e de integração global. O desemprego e a desigualdade, segundo estudos publicados nos últimos dois anos, são explicáveis muito mais pela mudança tecnológica do que pela concorrência comercial. “A distribuição assimétrica de benefícios e custos”, indica o relatório preparado pelo FMI, “torna necessárias fortes políticas internas para ajudar no ajuste.” Em alguns dos estudos se chega a propor processos educativos por toda a vida para facilitar a adaptação de todos às mudanças nas condições de produção. Nem protecionismo, nem rejeição da modernidade: a resposta é facilitar o acesso de todos aos benefícios da inovação e da integração global.