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O desafio das eleições

A pesquisa do Datafolha sobre a intenção de voto para presidente da República mostrou que o eleitor ainda está à espera de um candidato para chamar de seu

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Por Redação
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Realizada entre os dias 11 e 13 de abril, a última pesquisa do Datafolha sobre a intenção de voto para presidente da República mostrou uma vez mais que o eleitor ainda está à espera de um candidato para chamar de seu. Na enquete relativa à intenção de voto espontânea, em que não é apresentada uma lista com os possíveis candidatos, 46% dos entrevistados não apontaram nenhum nome e 21% declararam espontaneamente que votarão em branco ou nulo nas próximas eleições. São dois terços da população que, a menos de seis meses do primeiro turno, não têm candidato a indicar, seja por opção seja por desconhecimento dos possíveis nomes e propostas.

Sendo as eleições deste ano decisivas para o futuro do País, um cenário eleitoral tão aberto e imprevisível chama a atenção e causa natural apreensão. Será o eleitor maduro o suficiente para confirmar a continuidade das reformas de que tanto a Nação necessita, dando um basta a anos de populismo no Executivo e no Legislativo? Tal questão, no momento, não tem uma resposta. No máximo, há conjecturas.

Reconhecer essa incerteza não é o mesmo que transformar o futuro do País em obra do acaso, num terrível jogo do imprevisível. O cenário eleitoral aberto joga luzes sobre uma questão fundamental: a responsabilidade dos partidos políticos, minimamente preocupados com o interesse nacional, de congregarem esforços para o lançamento de candidatos viáveis, que apresentem propostas maduras, capazes de entusiasmar os brasileiros. As lideranças partidárias têm a desafiadora tarefa de construir alianças que assegurem viabilidade eleitoral às melhores propostas para o País.

Serão as primeiras eleições gerais depois da proibição, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em setembro de 2015, de que as campanhas políticas sejam financiadas por empresas. Além de devolver ao eleitor o seu papel de protagonista na democracia e de assegurar um novo patamar de moralidade nas relações entre o público e o privado, a nova regra de financiamento eleitoral deve fazer com que a campanha eleitoral seja ocasião de debate de propostas para o País.

Sem recursos financeiros para a produção dos espetáculos de entretenimento, como era costume ocorrer nas campanhas anteriores, os candidatos têm a possibilidade de comunicar, sem maiores interferências, suas ideias e projetos. Trata-se de uma enorme oportunidade e de um grande desafio, tendo em vista que dois terços dos brasileiros não têm ainda candidato escolhido.

O cenário eleitoral aberto também indica que, até o momento, não é vencedora nenhuma candidatura radical. Precipitam-se aqueles que anunciam como certa a ocorrência de calamidades nas eleições de 2018. O terrorismo eleitoral sempre serve aos oportunistas de plantão, mas está muito longe de ser uma previsão inexorável.

A imprevisibilidade do resultado das próximas eleições, como indicam as pesquisas, deve ser um estímulo à responsabilidade do eleitor. O País tem nos próximos seis meses um privilegiado espaço de exercício da cidadania, para debater de forma prática e realista a situação nacional, suas causas e os possíveis caminhos.

A maturidade de um país não se manifesta apenas, como muita gente tem afirmado, na autonomia e isenção do Poder Judiciário para julgar eventuais crimes cometidos por poderosos. Sua maturidade se revela mais decisivamente na capacidade do eleitorado de assumir responsavelmente o encaminhamento e a solução das questões nacionais, o que começa por procurar se informar bem sobre o País, suas prioridades, seus próximos desafios. Num mundo em que a tecnologia deixou a informação incrivelmente acessível, é indesculpável um voto que seja fruto do desconhecimento ou da ignorância.

Nos últimos 15 anos, o País desperdiçou grandes oportunidades. Dissolveram-se cenários econômicos incrivelmente favoráveis, em condições que dificilmente se repetirão. Depois, a crise chegou forte, resultado inexorável do desgoverno petista. Desde 2016, o País tenta a duras penas reerguer-se. A hora é de trabalhar para que, com as eleições deste ano, o Brasil se ponha definitivamente de pé. Chega de se curvar a oportunistas, incompetentes e corruptos.