Faz tempo que o limite do tolerável em relação à falta de segurança no câmpus da Universidade de São Paulo (USP) foi ultrapassado. Assaltos, sequestros relâmpago e estupros têm se tornado rotineiros para os estudantes da maior universidade da América Latina, situação que envergonha a cidade e demanda imediatas providências – a mais recente delas é o anúncio da criação de uma Polícia Comunitária. O problema é que, sempre que se trata da USP, parece que se está a falar de um território autônomo, fora da jurisdição do governo do Estado e, portanto, que não pode ser policiado pelas forças de segurança pública. Espera-se que, desta vez, a iniciativa das autoridades para garantir o mínimo de tranquilidade aos alunos da universidade não seja obstada pela gritaria panfletária dos baderneiros que se dedicam a demonizar a polícia para se assenhorearem da USP.
O último caso que mobilizou as atenções da universidade foi o estupro de uma estudante de 17 anos da Faculdade de Economia e Administração (FEA), na Praça do Relógio. Ela estava se dirigindo ao Restaurante Universitário, por volta das 18 horas, quando foi abordada por um homem com uma faca, que a ameaçou e a violentou. Não há câmeras de segurança no local.
A USP já tinha pronto um plano de implantação da Polícia Comunitária, previsto para entrar em vigor em dezembro, como resposta a um aumento das ocorrências no câmpus, mas o novo registro de violência obrigou a universidade e o governo a anteciparem para setembro.
Atualmente apenas 22 policiais militares fazem a ronda de toda a área da universidade, até as 23 horas. Somente 59 câmeras de segurança, todas tecnicamente ultrapassadas, auxiliam o monitoramento. O plano vai aumentar o número de câmeras para 638, além de melhorar a iluminação em pontos de ônibus e nas vias em geral – a escuridão é uma das principais reclamações dos estudantes.
Mas a principal mudança será a adoção de um modelo japonês de policiamento chamado de “koban”, que privilegia a prevenção e a aproximação com a comunidade. Esse modelo obriga os policiais a terem amplo conhecimento da vida na universidade, de seus problemas e de suas demandas, para ganhar a confiança da comunidade e agir conforme as particularidades locais.
A Polícia Comunitária que atuará na USP, cujos integrantes ainda estão passando por treinamento, deverá ser composta por algo entre 80 e 120 policiais, que terão uma base fixa dentro da universidade. “Tenho absoluta certeza de que vai ser um case mundial em termos de segurança em universidade, que pretendemos expandir para todos os campi de universidades públicas do Estado”, disse o secretário estadual de Segurança Pública, Alexandre de Moraes.
Oxalá o entusiasmo do secretário se traduza em melhorias efetivas. Nem é preciso que seja um exemplo mundial – basta que os alunos da USP finalmente se sintam um pouco mais seguros. O fato, porém, é que todas as iniciativas tomadas pelo governo do Estado para aumentar a segurança da USP, envolvendo a Polícia Militar, sempre foram interpretadas pela militância de grupelhos de esquerda – que se arvoram em representantes do conjunto da Cidade Universitária – como usurpação ditatorial do “território livre” da USP.
Quando contrariadas, essas forças do atraso apelam para a violência, invadindo os prédios da universidade, trancando as entradas para impedir o acesso de estudantes e destruindo o patrimônio que é da sociedade. São justamente esses vândalos que vêm pautando o debate sobre a segurança na USP, fazendo as autoridades, constrangidas pelo barulho da baderna, dobrarem-se a exigências esdrúxulas em nome da “autonomia universitária”.
A USP não existe à margem do Estado, e sua área deve receber a mesma atenção que as autoridades responsáveis pela segurança pública dispensam ao resto da cidade. Assim, a nova iniciativa do governo e da universidade, com a adoção da Polícia Comunitária, deve ser apoiada não só pelas qualidades do projeto em si – que ainda estão por ser testadas –, mas principalmente porque denota uma renovada disposição de enfrentar, sem leniência, a violência na universidade.