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O emprego vai mal

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Por Redação
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Demissões nas fábricas, na construção civil e no comércio marcaram o mercado de trabalho em setembro, nas seis maiores áreas metropolitanas. Apesar disso, o desemprego ficou praticamente estável em relação a agosto, com redução de 5% para 4,9%, segundo a pesquisa mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Houve cortes nos empregos mais produtivos e de melhor remuneração - mais um claro sinal de deterioração econômica -, enquanto as contratações se concentraram nos serviços, com destaque para os domésticos. Com pouca variação, tem sido assim a criação de postos de trabalho alardeada pela presidente Dilma Rousseff. Examinados com alguma atenção, os dados se tornam mês a mês mais preocupantes.Há duas explicações para o aparente mistério do desemprego em queda enquanto aumentam as demissões nos setores mais dinâmicos da atividade urbana. Nenhuma das duas permite algum otimismo.A primeira é a contratação de pessoal para serviços privados, geralmente em funções menos produtivas, e também para a máquina pública. Numa economia estagnada há quatro anos, o setor público, em todos os níveis de governo, continua sendo um grande empregador.A segunda explicação é um tanto intrigante, mas é a de maior alcance, além de ser indispensável à coerência dos números: a população ativa, isto é, ligada ao mundo do trabalho, tem diminuído.Em um ano, a partir de setembro de 2013, a população em idade de trabalhar (com 10 anos ou mais) aumentou 1,1%, enquanto o grupo economicamente ativo (empregado ou em busca de trabalho) diminuiu 1%. Isso foi possível porque a população fora da atividade encolheu 3,7%. Em um ano, segundo o IBGE, 690 mil pessoas passaram à inatividade, nas áreas metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e Salvador. Só de agosto para setembro deste ano o aumento foi de 133 mil.O grupo dos novos desocupados deve incluir pessoas muito jovens, estudantes dispostos a adiar a entrada no mercado e trabalhadores aposentados há pouco. Mas inclui também, como já indicaram algumas pesquisas, contingentes importantes de jovens fora da escola e do trabalho, os chamados nem-nem. Numa economia com renda média bem inferior à dos países desenvolvidos e até menor que a de alguns em desenvolvimento, esse encolhimento da população ativa é surpreendente. É tempo de aprofundar as pesquisas sobre o assunto.De toda forma, dois pontos muito importantes para a avaliação da política econômica estão claros. Não se pode - este é o primeiro ponto - atribuir a redução do desemprego à criação de postos de trabalho, como foi observado também pela especialista Adriana Beringuy, técnica da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE.O outro dado relevante é a perda de qualidade das ocupações criadas. De agosto para setembro, a indústria demitiu 59 mil trabalhadores e o contingente de empregados no setor diminuiu 1,7%. Em relação a setembro de 2013, houve um corte de 238 mil vagas e o nível de emprego baixou 6,4%. Ninguém se iluda quanto ao setor de serviços: seu peso na composição do Produto Interno Bruto (PIB) pode ser maior que o dos demais segmentos da economia, mas a maior parte de seus empregos é menos produtiva, com menor remuneração e menores benefícios. Não se deve confundir o cenário brasileiro com o das economias já integradas na impropriamente chamada era "pós-industrial".Em setembro, a construção civil demitiu 63 mil trabalhadores, apesar do programa habitacional do governo e da alardeada política de investimentos em infraestrutura. No confronto com setembro de 2013, houve redução de 81 mil no pessoal empregado. O comércio cortou 5 mil funcionários, mas ainda conservou 22 mil a mais que em setembro de 2013. A aproximação do Natal deve ser parte da explicação, embora os lojistas, neste ano, venham demonstrando pouco entusiasmo em relação às festas de fim de ano. Papai Noel continua empregado, mas aparentemente com menos serviço pela frente.