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O FMI e o dilema europeu

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Por Redação
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Os governos da Alemanha e da França, as maiores economias da zona do euro, resolveram enfrentar a crise e passaram a defender a participação do Fundo Monetário Internacional (FMI) num pacote de ajuda à Grécia. O acerto entre a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, foi anunciado quinta-feira, em Bruxelas, antes de uma reunião dos 27 países-membros da União Europeia. Dirigentes do Reino Unido, da Holanda e da Suécia já haviam declarado apoio à proposta. Ainda havia resistência - depois superada - de alguns parceiros e da cúpula do Banco Central Europeu (BCE). A imagem do euro seria prejudicada, se a sua estabilidade ficasse na dependência de um órgão internacional não controlado pelos europeus, disse um diretor do banco. Argumentos desse tipo são irrealistas, neste momento, e não só por causa da situação da Grécia. A classificação de Portugal foi rebaixada na quarta-feira por uma grande agência de avaliação de risco, a Fitch. A nota portuguesa continua elevada, mas o rebaixamento se refletiu na cotação do euro e nos negócios das bolsas. Foi mais um sinal de alerta para mercados já inseguros. Mas também há problemas sérios nas contas públicas de outros países da união monetária. Espanha, Itália e Irlanda são os casos mais notórios. Há dificuldades importantes - grandes buracos orçamentários e dívidas elevadas - também fora da zona do euro. A situação fiscal do Reino Unido está longe de ser tranquila. Alguns, em pior situação, foram socorridos pelo FMI no começo da crise. Já estavam em dificuldades antes da recessão. O caso mais visível foi o da Polônia, socorrida com um crédito especial de US$ 20 bilhões. Dentro e fora da zona do euro, as economias foram afetadas pelo estouro da bolha imobiliária - alguns, como o Reino Unido e a Espanha, mais fortemente que outros. Todos enfrentaram o problema de socorrer bancos e o de atenuar, com medidas fiscais, os piores efeitos da recessão. Para os 16 membros da união monetária há uma complicação adicional. São forçados, como os demais, a trabalhar pela própria recuperação, tendo o cuidado de não criar maiores problemas para os parceiros europeus. Mas, além disso, têm de cuidar de um patrimônio comum, o euro. Esse detalhe tornou a crise de um pequeno país, a Grécia, com o Produto Interno Bruto (PIB) estimado em US$ 357 bilhões em 2009, muito mais delicada que a da Polônia (PIB de US$ 527 bilhões). O presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, falou duas vezes na quinta-feira sobre a ajuda do FMI à Grécia. Na primeira, classificou-a como negativa para o euro, se concedida sem a participação dos demais países da união monetária. Divulgada à tarde, a declaração repercutiu nos mercados. O governo grego, disse o presidente do BCE, já anunciou medidas convincentes para corrigir seu desajuste fiscal. Horas depois, Trichet se referiu à solução conjunta, com participação do FMI, como "exequível". A ação conjunta é prevista na proposta da chanceler Angela Merkel e do presidente Nicolas Sarkozy. Os países da zona do euro concederiam à Grécia empréstimos bilaterais para compensar, em parte, as dificuldades de acesso ao mercado financeiro. O Fundo entraria com cerca de 15 bilhões. O pacote ficaria próximo de 23 bilhões. Com essa ajuda, o governo grego poderia enfrentar os problemas imediatos. Sem apoio, não terá como rolar a dívida de curto prazo. Todo o esquema deve envolver, naturalmente, condições e critérios fiscais adequados à defesa do euro e não apenas à recuperação da Grécia. Autoridades europeias alertaram há algum tempo para o chamado "risco moral" de se interpretar o socorro ao governo grego como um estímulo à irresponsabilidade financeira.Os líderes europeus não devem menosprezar esse ponto. Mas a melhor maneira de eliminar ou atenuar o risco é criar mecanismos para supervisão das políticas nacionais. A União Europeia tem metas e critérios comuns, mais estritos para os integrantes da zona do euro, mas faltaram os controles. O socorro à Grécia e a necessidade de ajuste de várias economias compõem apenas uma parte do quadro. Falta saber como dosar a correção fiscal para não interromper a recuperação econômica e não criar o risco de uma segunda queda na recessão.