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O futuro dos metalúrgicos

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Por Redação
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Apesar de manter há mais de cinco décadas um grande complexo industrial em São José dos Campos, no Vale do Paraíba, a General Motors (GM) decidiu produzir seus novos modelos em outros Estados, a centenas de quilômetros de distância de São Paulo, que é o maior centro consumidor dos produtos das montadoras de veículos. Os motores, por exemplo, serão fabricados numa fábrica que está sendo construída na cidade de Joinville, em Santa Catarina. Já a perua Spin, que substituirá os modelos Meriva e Zafira, será produzida na fábrica de São Caetano, no ABC. E a unidade de Gravataí (RS), que produz o Celta, está sendo convertida em plataforma para o lançamento de uma nova família de carros compactos. A decisão da terceira maior produtora de carros do País, que pode levar ao esvaziamento do setor metalúrgico numa das áreas mais industrializadas do Estado, é uma resposta ao radicalismo dos metalúrgicos do Vale do Paraíba. Pressionada pelas disputas entre sindicalistas da Central Única dos Trabalhadores (CUT), vinculada ao PT, e do Conlutas, central sindical vinculada ao PSTU, a categoria vem exorbitando em suas reivindicações e posições. Além de fazer exigências irrealistas de reajuste salarial, ela se opõe ao sistema de banco de horas, por meio do qual os operários, em troca da garantia do emprego, aceitam trabalhar mais, quando a demanda do mercado aumenta, e reduzir a jornada, quando as vendas caem. Atualmente, a GM emprega 7 mil metalúrgicos no complexo industrial de São José dos Campos. A última vez em que a empresa e o sindicato local se entenderam foi em 2008. De lá para cá, as negociações não foram conclusivas - e, dos R$ 5,5 bilhões que a companhia investiu no Brasil ao longo dos últimos quatro anos, apenas R$ 800 milhões foram destinados à fábrica do Vale do Paraíba. A trajetória dos metalúrgicos da GM na região é muito diferente da dos metalúrgicos do ABC. O sindicato da categoria em São José dos Campos não se renova desde a década de 1980, mantendo os mesmos dirigentes dos últimos 30 anos. Vinculados ao Conlutas, eles foram mais uma vez reeleitos há três meses, mas perderam a base da fábrica da GM para antigos rivais, que são vinculados à CUT. Já o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC sofreu uma metamorfose nas três últimas décadas. Os dirigentes mais antigos, como Lula, Vicentinho, Jair Meneguelli e Luís Marinho, que confrontaram as montadoras liderando greves históricas, entre 1978 e 1981, deram a vez a dirigentes realistas, conscientes da diversificação da economia e da crescente informatização da produção, propiciadas pelo avanço da tecnologia. Os sindicalistas do ABC descobriram que, como a concorrência é acirrada, as montadoras não hesitariam em transferir unidades de produção para cidades e Estados onde o custo de produção é baixo. Na década de 1990, de cada 100 automóveis fabricados no País, cerca de 75 saíam das fábricas de São Bernardo e de São Caetano. No final da década de 2000, esse número havia sido reduzido em dois terços. Para tentar atrair novos investimentos do setor automobilístico para a região e, com isso, recuperar os antigos índices de emprego, os novos líderes dos metalúrgicos do ABC substituíram o confrontacionismo de seus antecessores por atitudes cooperativas e relações de parceria. Não só aceitaram o sistema de banco de horas, como também negociaram com as montadoras a flexibilização da legislação trabalhista, em matéria de férias, tempo de descanso para almoço e licença-maternidade. Não foi por acaso que, nos últimos anos, a Volkswagen e a GM investiram na modernização de suas antigas unidades no ABC, engavetando os projetos de expansão de suas fábricas no Vale do Paraíba. A GM, por exemplo, lançou dois programas de demissões voluntárias em São José dos Campos, no mês passado, enquanto a fábrica de São Caetano vem contratando operários. Isso mostra que o futuro dos metalúrgicos, em matéria de emprego, depende da sensatez e maturidade de seus líderes.