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O lento avanço contra a inflação

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Por Redação
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Maio termina com boas novidades no front da inflação, mas os preços continuam subindo muito mais do que no resto do mundo. Os brasileiros deveriam dar mais atenção a esse detalhe. Além de comprometer o poder de consumo das famílias, a espiral de aumentos eleva os custos de produção e de comercialização, torna a indústria nacional menos competitiva e prejudica a criação de empregos. Para levar a inflação anual à meta de 4,5% – no fim de 2016 – ainda será preciso manter vigilante a política monetária, como disse no Congresso o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini. Não há, pois, como descartar novas elevações de juros. No mercado financeiro ainda se aposta em pelo menos mais 0,5 ponto de alta. Isso levará a taxa básica a 13,75%.

Uma das novidades positivas foi o aumento menor dos preços por atacado. A variação passou de 1,41% em abril para 0,3% em maio, segundo a Fundação Getúlio Vargas, principalmente pelo recuo dos preços dos produtos agropecuários. Depois de subir 1,37% em abril, caíram 1,51%. Em contrapartida, os bens industriais subiram mais 1,01%, depois de uma alta de 1,46% em abril.

Com peso de 60%, a variação dos valores no atacado é o principal componente do IGP-M, o Índice Geral de Preços apurado entre o dia 21 de um mês e o dia 20 do mês seguinte. O segundo componente, com peso de 30% no conjunto, é o Índice de Preços ao Consumidor. Este aponta a inflação que aparece nos mercados, lojas, postos de gasolina, escolas, consultórios, cabeleireiros e transportes públicos.

A alta desse indicador passou de 0,75% em abril para 0,68% em maio. Pode parecer um bom recuo, mas a elevação acumulada em 12 meses ficou ainda em 8,31%. Além disso, em um ano uma taxa mensal de 0,68% resulta numa inflação de 8,47%. A redução da taxa mensal pode até ser uma notícia positiva, mas ainda falta muito para se alcançar um padrão civilizado de evolução dos preços.

Outra novidade positiva, mas também muito longe de satisfatória, já havia sido divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O sinal de melhora, dessa vez, foi a perda de impulso do IPCA-15, a prévia da inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo. O ritmo da alta desse indicador passou de 1,07% em abril para 0,6% em maio, graças, principalmente, ao menor aumento dos gastos com habitação e transportes. A variação acumulada em cinco meses bateu em 5,23% e superou amplamente a meta oficial, mas esta os diretores do BC só prometem alcançar no fim de 2016.

O resultado em 12 meses, de 8,24%, pouco deverá mudar até o fim de 2015, segundo a maior parte das estimativas. Pode até piorar. Na pesquisa Focus divulgada na última segunda-feira, a mediana das projeções apontava 8,37% como resultado final do ano. Essa pesquisa é realizada semanalmente pelo BC entre economistas do mercado financeiro e de consultorias.

O IPCA-15 de maio revelou uma inflação ainda muito alta e amplamente espalhada. A pressão dos preços administrados, como tarifas de energia e de transporte público, foi menos forte que no mês anterior, mas os focos de aumento continuaram muito numerosos. Mais de dois terços dos preços – 69% – subiram no período, segundo o índice de difusão calculado por especialistas do setor financeiro. Ainda se pode, portanto, falar de condições de demanda muito propícias à elevação geral dos preços, apesar do forte aumento dos juros, do maior desemprego e da menor expansão do crédito.

A grande tarefa da política monetária, por um bom tempo, será limitar o contágio dos preços administrados – da eletricidade, dos combustíveis e do transporte público, por exemplo – e o efeito da alta do dólar. Assim os dirigentes do BC vêm definindo seu principal desafio desde o ano passado. Essa visão foi reafirmada pelo presidente Tombini em sua recente exposição no Congresso. Se o ajuste das contas públicas avançar, o combate à inflação será mais eficiente. E menos demorado.