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O mercado de trabalho e a rotatividade de pessoal

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Por Redação
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Nos últimos 12 meses, até agosto, 16,2 milhões de trabalhadores com carteira assinada foram demitidos e quase 18,5 milhões, contratados. Isso indica uma elevada rotatividade da mão de obra, que desorganiza a vida dos trabalhadores e prejudica empresas que treinaram o pessoal em busca de produtividade e depois arcam com os ônus financeiros das demissões.Os dados da rotatividade, do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), refletem uma tendência de longo prazo: nos mesmos períodos dos últimos anos, o número de demitidos em 12 meses cresceu de 11,3 milhões, em 2006, para 12,4 milhões, em 2007; chegou a 14 milhões, em 2008, e atingiu 15,6 milhões, no ano passado.Espera-se agora uma redução do número de demissões - e da rotatividade -, mostrou reportagem do jornal Valor. E o motivo é a diminuição da diferença entre o salário de admissão e o salário que era pago aos demitidos. Essa diferença foi de 6,8%, no primeiro semestre de 2008, um ano de forte crescimento; aumentou para 13,2%, na recessão de 2009; e caiu para 7,2%, entre janeiro e junho, quando a economia voltou a crescer.A queda da rotatividade é, por enquanto, uma promessa. Mas, se confirmada, significará uma mudança estrutural no mercado de trabalho.Em média, a rotatividade é da ordem de 20%, mas há subsetores em que é muito superior - caso da construção civil e da agropecuária, em que há contratações temporárias, para a construção de um edifício ou para uma safra, notou o diretor do Dieese, Sérgio Mendonça. A rotatividade também é expressiva em instituições financeiras, que em agosto contrataram 9.719 trabalhadores e demitiram 5.898 (diferença de 39,3%); ou no ensino, em que, no mês, a diferença entre o número de admitidos (52.376) e o de demitidos (30.033) foi de 42,6% (em períodos mais longos, a rotatividade no ensino é menor). É provável que índices tão elevados de rotatividade se reflitam negativamente nos serviços prestados aos clientes.A diminuição da rotatividade está ligada à força do mercado de trabalho, que superou as expectativas, no mês passado - quase 300 mil vagas com carteira assinada foram abertas e as consultorias econômicas já preveem que elas cheguem a 2,3 milhões neste ano. Resta saber se será possível manter aquecidos o mercado de trabalho e os salários, desestimulando a rotatividade, cuja redução dependerá, afinal, da política econômica do próximo governo, pois, se a inflação voltar a subir, o mercado de trabalho será penalizado.