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O mundo desmente Dilma

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Por Redação
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O mundo continua a desmentir a presidente Dilma Rousseff, enquanto ela insiste em culpar os desarranjos do mercado internacional – e agora também a oposição – pelo desastre econômico brasileiro. Minoritária, a oposição jamais poderia, sozinha, impedir a aprovação de qualquer projeto de lei, e isso basta para desqualificar a acusação. A outra parte, a alegação de uma crise gerada no exterior, pode parecer mais convincente a pessoas menos informadas. Mas é uma desculpa igualmente falsa e muitas vezes desmoralizada, nos últimos anos, pelas fontes internacionais de informação e por analistas qualificados. Mesmo quando surgem notícias negativas sobre outras economias, desenvolvidas, emergentes ou em desenvolvimento, as novidades dificilmente são tão ruins quanto os números divulgados diariamente a respeito do Brasil. Exemplo: em abril caíram os índices de gerentes de compras do setor industrial nos Estados Unidos e no Brasil – má notícia para todos –, mas a perspectiva americana ainda é de expansão, enquanto a brasileira é de mais contração nos negócios.

Esse indicador, um dos muitos publicados com regularidade em todo o mundo, é produzido pela Markit, uma multinacional especializada em informação financeira e econômica para clientes de vários países. Nos Estados Unidos, o índice dos gerentes de compras da indústria, conhecido pela sigla PMI, caiu para 50,8 pontos no fim de abril. É um sinal de dificuldades, mas números acima de 50 ainda apontam alguma expectativa de crescimento. O índice do Brasil, publicado no mesmo dia, segunda-feira, passou de 46 em março para 42,6 pontos em abril, confirmando o 15.º mês consecutivo de recuo da demanda interna. Já no território negativo, isto é, abaixo de 50, o indicador continuou em queda, numa evolução claramente associada ao avanço das demissões.

O único sinal positivo em relação ao Brasil, comentou a analista responsável pelo relatório, Pollyana Lima, é o crescimento mais veloz das encomendas de exportação, vinculado, aparentemente, à depreciação da moeda. Real mais barato no mercado externo barateia os produtos nacionais para os estrangeiros e encarece as importações. Mas o custo das matérias-primas importadas também sobe e o aumento dos custos de insumos, assinalou a economista, tem sido o mais intenso em quase oito anos, com possíveis efeitos inflacionários.

Nem toda novidade sobre a economia internacional é negativa, no entanto, embora as instituições multilaterais mantenham agora projeções de crescimento global menores que as formuladas no começo do ano ou no trimestre final de 2015. Na semana passada, números da zona do euro surpreenderam os analistas. Pelos últimos dados, o produto bruto da união monetária cresceu no primeiro trimestre 0,6% em relação aos últimos três meses de 2015. Os economistas previam expansão de 0,4%.

Entre janeiro e março, o PIB da zona do euro foi 1,6% maior que o de um ano antes e o desemprego médio recuou de 10,3% para 10,2%. No Brasil, a desocupação no mesmo período chegou a 10,9%, com 11,09 milhões de pessoas em busca de um posto de trabalho.

Na zona do euro, o sinal mais ameaçador tem sido a inflação muito baixa. Em abril, o índice de preços ao consumidor foi 0,2% mais baixo que o de um ano antes. A inflação continua bem abaixo da meta do Banco Central Europeu, definida como próxima de 2% ao ano. Ainda há o temor de uma deflação, mas a maioria dos sinais vitais tem melhorado, mesmo nos países mais duramente afetados pela crise financeira. No Brasil, a alta dos preços ao consumidor, ainda acima de 9% em 12 meses, só tem arrefecido por causa de juros muito altos e da recessão.

Na América Latina, mesmo países muito dependentes da exportação de matérias-primas, como Chile, Colômbia, Paraguai e Peru, continuam crescendo, embora prejudicados pela baixa das cotações. Perderam impulso, mas ainda avançam e também desmentem, portanto, as alegações da presidente Dilma Rousseff.