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O novo ano da agricultura

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Por Redação
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Um novo recorde na safra de grãos e oleaginosas poderá ser obtido em 2012-2013, segundo a primeira estimativa de plantio divulgada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Os cálculos iniciais indicam uma produção na faixa de 177,7 milhões a 182,3 milhões de toneladas de algodão, amendoim, arroz, feijão, milho, soja, trigo e umas poucas lavouras menos importantes. O aumento ficará entre 7,2% e 10%. O governo divulgará levantamentos atualizados nos próximos meses. Por enquanto, as perspectivas são de boas condições de abastecimento no próximo ano e de resultados satisfatórios nas exportações do agronegócio. No entanto, quase todo o aumento de área, estimado entre 0,2% e 2,7%, dependerá de uma única lavoura - a da soja - com variação prevista entre 5,5% e 9,1%. A decisão dos produtores é obviamente uma resposta às condições do mercado internacional. Em outras circunstâncias, essa decisão poderia ser um indício de problemas no mercado interno. Embora com expansão de área menor que a da soja, ou mesmo com redução, a oferta de produtos essenciais ao consumidor brasileiro deverá ser satisfatória. A produção de soja deve aumentar entre 13,7 milhões e 16,4 milhões de toneladas. Na primeira safra, o acréscimo na colheita de milho ficará entre 653 mil e 2 milhões de toneladas - uma boa notícia para os produtores e exportadores de frangos e suínos e para os consumidores internos. O feijão da primeira safra deve resultar entre 45,9 mil e 84,5 mil toneladas mais volumoso que o de um ano antes. A colheita de arroz poderá ser mais ou menos igual à de 2011-2012 - em qualquer caso, sem risco para o abastecimento. Alguns fatores permitem uma avaliação tranquila do cenário. Uma produtividade maior poderá garantir boas colheitas em áreas menores. De janeiro a agosto as entregas de fertilizantes foram 4,8% maiores que as de igual período de 2011. Projeções da Conab indicam entregas de 30,2 milhões de toneladas até o fim do ano, com acréscimo de 6,7% sobre o volume do ano anterior. A venda de máquinas agrícolas - 44 mil unidades até agosto - foi 0,2% inferior à de um ano antes, mas até dezembro o total projetado - 66 mil - poderá superar o de 2011. Outro fator é a fluidez do comércio. Amplamente integrado no mercado global, o agronegócio tanto aproveita as oportunidades de exportação quanto garante, pela importação, condições adequadas de abastecimento, quando necessário. Fatores incontroláveis, como a seca deste ano nos EUA e o aumento de demanda em grandes mercados, podem forçar aumentos de preços, mas com efeitos geralmente passageiros. O governo tomou uma excelente decisão para os consumidores brasileiros, há mais de duas décadas, quando resolveu deixar de protegê-lo por meio de controles de preços e de intervenções, quase sempre desastradas, no comércio internacional de produtos agrícolas. O aumento da produtividade e o superávit crescente do agronegócio foram acompanhados de condições estáveis de suprimento e de preços melhores para os consumidores nacionais. O governo manteve, no entanto, esquemas perfeitamente justificáveis de intervenção, por meio das políticas de preços mínimos, de financiamento e de manutenção de estoques públicos. Além disso, as estimativas da Conab indicam aumento dos estoques finais de algodão, feijão, milho, soja e derivados e trigo e uma pequena diminuição do de arroz. O cenário, portanto, é em geral favorável, embora a evolução do mercado internacional possa favorecer a elevação de preços de alguns produtos. Segundo avaliação do Banco Mundial, a combinação de instabilidade e cotações elevadas deve ser a nova condição dos mercados. Se essa avaliação for correta, o governo terá mais um forte motivo para reforçar e aperfeiçoar a política de estoques reguladores. Esse é mais um motivo para se tratar com mais cuidado da política agrícola do governo, área também atingida, como comprovaram os escândalos do ano passado, pelos males do loteamento e do aparelhamento.