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O novo cenário de Tombini

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Por Redação
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A economia global está em recuperação e a brasileira pode melhorar, se os investimentos crescerem e houver ganhos de produtividade. Isto resume, com diferença de ênfase, os últimos comentários do presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, sobre os cenários econômicos externo e interno. Segundo ele, a reativação americana ganha força, a Europa se estabiliza e a China conduz seu modelo de forma positiva e construtiva. As mudanças no panorama internacional, segundo ele, são positivas para os emergentes, incluído o Brasil. No País, acrescentou, houve alguma melhora no setor industrial e os investimentos estão aumentando. Mas ele só se declarou "cautelosamente otimista" quanto às perspectivas econômicas nacionais. A diferença de tom no tratamento dos dois cenários pode ter sido involuntária, mas é significativa e facilmente justificável."O Brasil está próximo do pleno emprego e agora o País tem de focar em investimento e produtividade", afirmou o presidente do BC, ontem, em teleconferência com a imprensa internacional. O comentário inicial é quase um eufemismo. A explicação do quase pleno emprego, no País, passa longe de qualquer referência a um período de crescimento excepcional. A produção de fato aumentou durante a maior parte do período entre 2003 e 2008, voltou a crescer em 2010 e em seguida entrou em estagnação. O crescimento nem foi, nos melhores anos, comparável ao das economias mais dinâmicas da área do Pacífico ou mesmo da América Latina. O problema foi mesmo o baixo nível de investimentos, principalmente do governo, combinado com a insuficiente formação de mão de obra razoavelmente educada ou até com potencial de treinamento no trabalho. O presidente do BC nunca se alongou na discussão pública desses assuntos nem criticou as políticas de investimento e as prioridades eleitas pelo Executivo nos últimos dez anos. Mas bate nos pontos certos, ao mencionar a necessidade de investimentos e de mais produtividade. Também foi realista, retomando a linguagem usada em documentos do BC, ao citar a redução da confiança dos consumidores.O aperto monetário iniciado em maio, com a alta de juros, tem sido, segundo ele, "muito construtivo", porque tem servido para conter a alta de preços e para restabelecer a confiança perdida pelos consumidores na fase de inflação mais alta. Em documentos recentes tem havido referência, em passagens sobre a retomada do crescimento econômico nacional, à necessidade de restabelecer a confiança tanto dos consumidores quanto dos empresários.A justificativa do aumento de juros aparece, é claro, em todas as notas e em todos os demais documentos técnicos do BC. Mas o assunto é raramente discutido de forma extensa e explícita nas manifestações de dirigentes da instituição, como se a linguagem clara a respeito dos juros fosse feia ou inconveniente. Nessa entrevista, a defesa do aperto monetário foi clara e ainda reforçada com uma referência às pressões inflacionárias associadas à valorização do dólar. A relação entre a questão cambial e a política do BC foi explorada extensamente. O mercado mundial, segundo ele, está em transição para "condições monetárias e financeiras normais", depois de uma fase de políticas muito frouxas. De fato, a mudança, por enquanto, só foi anunciada nos Estados Unidos. Tombini manifestou confiança em uma transição ordenada, com instabilidade menor que a observada a partir de maio, quando o banco central americano anunciou planos de reduzir a emissão de dólares. Mas, por enquanto, o BC brasileiro manterá, segundo ele, o programa de intervenções no mercado para limitar as oscilações do câmbio. Desmentiu, portanto, o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Na semana passada o Federal Reserve, o BC americano, havia prometido manter por mais algum tempo a ampla oferta de dólares. Segundo Mantega, isso permitiria uma redução das intervenções no mercado nacional. Mais uma vez o ministro se precipitou. Tombini preferiu a mensagem tranquilizadora. É cedo para apresentar ao mercado uma nova mudança de regras.