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O plano de Obama e o Brasil

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Por Redação
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O Brasil deve preparar-se para uma nova onda de importações de produtos americanos. O presidente Barack Obama tem um plano para duplicar as exportações dos Estados Unidos até 2015 e o mercado brasileiro é um dos alvos principais. Outros alvos prioritários são, naturalmente, a Rússia, a Índia e a China, ou seja, os demais Brics. As economias brasileira, indiana e chinesa atravessaram a crise com danos limitados e começaram a recuperar-se rapidamente. A Rússia foi a exceção, por causa de seu sistema financeiro muito vulnerável, mas também já voltou ao crescimento, graças, principalmente, às exportações de petróleo. Com a produção crescendo cerca de 7% em 2010 e o consumo em alta, o Brasil, uma das dez maiores economias do mundo, é um campo de caça atraente para empresas de todo o mundo. A atração se torna mais forte quando os países desenvolvidos permanecem, como agora, atolados na recessão ou apenas começaram a sair da maior crise financeira desde a dos anos 30 do século passado. O plano enviado pelo presidente Obama ao Congresso contém uma ampla bateria de medidas para fortalecer as vendas externas de bens e serviços. O Executivo propõe a concessão de benefícios fiscais a exportadores, o aumento do crédito, estímulos especiais a empresas pequenas e médias, um esforço maior de promoção comercial e um trabalho especial de advocacia para remover barreiras nos demais países. O comércio exterior é poderoso criador de empregos e os salários das empresas exportadoras são em média 15% maiores que os demais, segundo afirmou o presidente Obama ao apresentar seu plano. A ideia de dobrar as exportações até 2015 havia sido lançada há seis meses. Iniciativa concebida como um esforço a mais para tirar da recessão a economia americana, ainda com desemprego acima de 9%. A extensão da pobreza é a maior desde 1995: 14,3% de pessoas abaixo da linha divisória traçada pelo Escritório do Censo. O governo americano foi o primeiro do mundo rico a adotar uma política especial de estímulo à exportação. O primeiro, portanto, a se preparar para o jogo recomendado há cerca de um ano pelo Grupo dos 20 (G-20) e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Nesse novo jogo, os países normalmente superavitários devem basear seu crescimento econômico sobretudo no mercado interno, estimulando o consumo e importando mais. A ideia é reequilibrar a economia global. Os países deficitários devem fazer o oposto - aumentar a poupança interna e ampliar as exportações. Na sua versão mais simples, o jogo tem dois grandes participantes - a China, maior exportadora e detentora do maior superávit externo, e os Estados Unidos, maior potência global e também a principal economia deficitária. A disputa entre Estados Unidos e China por causa da moeda chinesa subvalorizada é, há vários anos, parte importante desse quadro. Mas o jogo real é mais complexo e envolve outros emergentes, incluído o Brasil. Mas a posição brasileira é diferente da chinesa em vários aspectos importantes. Há dois anos o País acumula déficit na conta corrente do balanço de pagamentos. O superávit comercial diminui rapidamente, porque a expansão da demanda interna, muito maior que a da maior parte dos demais países, faz a importação crescer muito mais que a exportação. Além disso, o real, ao contrário do yuan, está sensivelmente valorizado. A deterioração das contas externas brasileiras deve continuar em 2011, mas o resultado poderá ser pior que o previsto, se o esforço exportador americano for bem-sucedido. A contribuição do Brasil à recuperação do mundo rico poderá ser muito cara para os brasileiros, em termos de emprego e de enfraquecimento da posição externa. O risco é ampliado pela perspectiva de aumento do ingresso de dólares, com maior valorização do real. O governo deveria pensar com urgência nas condições de competitividade do País. O Brasil menosprezou o mercado americano quando barrou o projeto da Alca, a Área de Livre Comércio das Américas. Mas os americanos não menosprezam o mercado brasileiro.