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O preço da gestão desastrosa

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Por Redação
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Ainda que consiga atenuar as perdas financeiras e de credibilidade causadas pelo esquema de rapinagem apurado pela Operação Lava Jato, a Petrobrás continuará tendo sérias dificuldades para executar seus programas de prospecção, produção, refino e distribuição, como ela própria reconhece oficialmente.

Os preços dos derivados de petróleo, bem como seu programa de investimentos, continuarão sujeitos a decisões de seu controlador, o governo federal, razão pela qual a estatal poderá ser forçada a colocar em segundo plano a busca de seus objetivos para atender aos interesses do Palácio do Planalto. Isso afeta suas projeções financeiras. A primeira consequência é que ela não conseguirá executar seu ambicioso programa de investimentos contando apenas com o fluxo operacional de caixa. Precisará de dinheiro de outras fontes, como aportes de seu controlador – o Tesouro Nacional – ou financiamentos internacionais.

Também em crise financeira, o Tesouro precisa cortar suas despesas e não terá como financiar os investimentos da estatal no volume e na velocidade requeridos pelo programa de pesquisa e exploração. O mercado financeiro parece disposto a emprestar para uma empresa que, apesar de sua profunda crise no momento, tem boas perspectivas de crescimento. Mas só empresta a juros em que incorrem as empresas de baixa credibilidade, como é hoje a Petrobrás.

A surpreendente operação de US$ 2,5 bilhões com bônus de 100 anos que a empresa acaba de concluir mostra isso. É sua primeira captação internacional desde março do ano passado, quando o bilionário esquema de corrupção começou a ser conhecido. Mas o custo da operação, de 8,45% ao ano, é o de empresas com classificação ruim pelas agências de avaliação de risco. Empresas e governos confiáveis pagam bem menos, como fez o México, que em abril captou € 1,5 bilhão pagando 4,2% ao ano.

O imenso poço de problemas em que foi transformada por seu continuado uso político pelo governo petista e, sobretudo, pelo esquema de corrupção está em parte descrito com realismo no documento que a Petrobrás encaminhou na semana passada à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), relatando sua atual situação econômico-financeira e apontando os fatores de risco que podem comprometer seu desempenho no futuro próximo.

Trata-se do Formulário de Referência, documento que as empresas que emitem ações precisam entregar à CVM no prazo de cinco meses após o encerramento do exercício financeiro. Ele contém, entre outras, informações sobre mudanças na estrutura de capital, dados financeiros e fatores de risco sobre as operações e os resultados futuros. No documento, a Petrobrás reconheceu que poderá “não ser capaz de compensar totalmente as perdas acumuladas” entre o fim de 2010 (fim do governo Lula e época da primeira eleição de Dilma Rousseff para a Presidência da República) e o terceiro trimestre do ano passado (já no fim do primeiro mandato de Dilma) por causa do controle do preço dos combustíveis, sempre menor do que o preço do mercado internacional. Estima-se que essas perdas alcancem US$ 80 bilhões.

Na área financeira, não só os novos financiamentos que a Petrobrás venha a obter ficarão mais caros. Nos próximos cinco anos vencerão US$ 76,8 bilhões das dívidas da estatal. Boa parte poderá ser refinanciada, mas a taxas flutuantes, que refletirão o rebaixamento da classificação de risco da empresa. Assim, o custo da dívida tende a aumentar. “A menos que haja aumento dos preços de venda dos produtos de modo a refletir a depreciação, a geração de caixa pode sofrer impacto negativo ao mesmo tempo em que se observa a elevação do endividamento”, alerta o documento encaminhado à CVM.

Em resumo, com fluxo de caixa insuficiente, a empresa precisa de financiamento; mas, tendo tido sua nota rebaixada, o financiamento fica cada vez mais caro. Por sua vez, o reajuste dos combustíveis ajudaria, mas alimentaria uma inflação já muito alta. Assim, investimentos e metas de produção estão ameaçados.