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O que a Olimpíada pode fazer pelo Rio?

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Por Maria Silvia Bastos Marques
4 min de leitura

Sede dos Jogos Olímpicos de 2016, o Rio de Janeiro enfrenta desafios com planejamento e muito trabalho, para que a 31.ª edição do maior evento do mundo seja não apenas memorável, mas histórica. Por causa da realização dos Jogos, questões urbanísticas importantes, há muito em pauta, ganharam o foco e o sentido de urgência necessários para sua solução. Nesse contexto, a experiência por que passa o Rio serve de referência para outras metrópoles do País que têm potencial para sediar grandes eventos. Estratégias para redução de recursos públicos, definição antecipada da utilização posterior de instalações e trabalho em conjunto com os três níveis de governo são apenas exemplos da disposição de obter o melhor custo/benefício dessa oportunidade. No caso do Rio, que foi capital da República, cidade-Estado e depois capital do Estado do Rio de Janeiro, há a peculiaridade de lidar com questões administrativas e fundiárias mais complexas do que as de outras capitais do País. Dessa forma, projetos fundamentais, como o da revitalização da área portuária e o das linhas viárias que integrariam a cidade - das quais só se concretizaram as Linhas Amarela e Vermelha -, entre outros, sempre esbarraram na necessidade de priorização dos três níveis de governo, para focar nos problemas da cidade. Com a conquista dos Jogos Rio 2016 essa situação mudou. O evento criou a oportunidade para dar prioridade a esses projetos essenciais para a cidade. Esse fato, somado à vontade política do prefeito Eduardo Paes - cuja determinação tem sido a de "usar" os Jogos para servir à cidade - e também à capacidade de execução da prefeitura, já está tornando realidade o legado da Olimpíada. A mudança mais transformadora é o projeto de mobilidade urbana. Com o Bus Rapid Transit (BRT), sistema de transporte em calha segregada, 152 km de novas vias cortarão e integrarão a cidade, incluindo a Transoeste, concluída, e a Transcarioca, a ser entregue em 2014. Os BRTs e os 28 km do Veículo Leve sobre Trilhos, na região portuária e no Centro, serão integrados a metrô, ferrovia, ônibus, barcas e aeroporto. Com a implantação dos quatro BRTs a atual frota, de aproximadamente 9 mil ônibus, será reduzida em cerca de um terço. Estima-se que em torno de 60% das viagens por transporte público serão feitas em sistemas de alta capacidade, livres de congestionamentos - hoje são menos de 20%. Além do impacto na qualidade de vida, pela redução do tempo de transporte, haverá benefícios também para o meio ambiente, pela menor queima de combustíveis decorrente de maiores velocidades operacionais. O projeto do Porto Maravilha, de revitalização de 5 milhões de m2 na região portuária, também caminha célere e já influencia positivamente o seu entorno. Viabilizado com recursos privados pela maior parceria público-privada (PPP) em curso no País, cerca de R$ 8 bilhões, o projeto não compromete recursos públicos tão necessários a setores prioritários, como saúde e educação, e devolverá ao Centro do Rio o lugar de destaque que sempre ocupou na História e na vida da cidade. Os dados econômicos também já apontam os efeitos dessa transformação. Bairros como Campo Grande, Madureira e Centro ganham nova dinâmica econômica, atraindo negócios e criando empregos, como resultado de investimentos da prefeitura na Transoeste, no Parque Madureira e no Porto Maravilha. No primeiro semestre de 2013 esses três bairros tiveram a maior valorização no preço por m2 de suas construções, algo impensável no passado recente. Outros projetos transformadores e há muito esperados são os de controle das enchentes na Praça da Bandeira e de macrodrenagem da Bacia de Jacarepaguá, em andamento, e o de duplicação do Elevado do Joá, importante ligação Zona Sul-Barra, em licitação. Nossa rede hoteleira, deteriorada pela falta de investimentos nas últimas décadas, aponta para renovação significativa, com 75 novos projetos de hotéis espalhados pela cidade, que representarão cerca de 16 mil quartos e mais de 10 mil novos empregos diretos. Inspirados nos Jogos, os Ginásios Experimentais Olímpicos (GEOs) trouxeram à escola o conceito de excelência conjunta em educação e esporte. Às três unidades já em funcionamento se somarão, até 2016, mais três GEOs. Os mais de 500 mil estudantes das 1.076 escolas da rede pública municipal também estão sendo beneficiados pela universalização do ensino de inglês. Em paralelo aos projetos de infraestrutura para a cidade caminham os projetos essencialmente olímpicos, como os de construção do Parque Olímpico e Paralímpico, da Vila dos Atletas e do Campo de Golfe. O primeiro está sendo erguido com substancial aporte de recursos privados, por meio de uma PPP, e os demais, integralmente bancados pelo setor privado, o que é inédito na história dos Jogos. O projeto de renovação e ampliação do Complexo Esportivo de Deodoro, recentemente assumido pela prefeitura, começa a deslanchar. O Parque Olímpico deixará como legado esportivo o primeiro Centro Olímpico de Treinamento para atletas de alto rendimento do País e capacitará o Rio a receber competições internacionais de alto nível. O Campo de Golfe Olímpico, após os Jogos, será público, incentivando a prática dessa modalidade esportiva e o turismo nacional e internacional associado ao esporte. Há pouco comemoramos a marca de três anos para os Jogos e a cada dia vemos esse prazo diminuir, enquanto a herança surge antecipadamente. Embora muito esteja sendo feito - e o tempo tornará mais claro o real benefício dos Jogos Rio 2016 para as atuais e as futuras gerações -, sabemos que há ainda muito a melhorar na vida de nossa cidade. Mas hoje já conseguimos antever o ressurgimento do Rio como um grande espaço de desenvolvimento econômico, social, cultural, inovador e realizador, com impactos positivos para todo o País.*Maria Silvia Bastos Marques é presidente da Empresa Olímpica Municipal.