Imagem ex-librisOpinião do Estadão

O Tietê e suas barragens

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

A Hidrovia Tietê-Paraná, atualmente com 750 km, ganhará uma extensão para 1.055 km, chegando às proximidades de São Paulo. Segundo o Departamento Hidroviário do Estado de São Paulo, deverão começar a ser licitadas este ano as obras de construção de cinco barragens no Rio Tietê e uma no Rio Piracicaba, todas com eclusas para permitir a passagem de embarcações, criando uma nova via navegável entre os municípios de Anhembi, a 232 km da capital, e Salto, a 98 km de São Paulo. Será formado assim um novo eixo modal de transporte, que servirá para o escoamento da produção de São Paulo e de mais seis Estados. A hidrovia se conectará com o corredor ferroviário de exportação Campinas/Santos, em Piracicaba e Salto. Além disso, haverá ligação com a Rodovia Marechal Rondon, na altura de Anhembi, Salto, Conchas, Laranjal Paulista e Tietê e, por meio da Rodovia SP-79, em Salto, entre a Castelo Branco e o Sistema Anhanguera-Bandeirantes. Isso não é tudo: as barragens a serem construídas para regular o nível das águas terão altura suficiente para a implantação de pequenas centrais hidrelétricas (PCH). A extensão da hidrovia é parte de um convênio de R$ 1,7 bilhão, firmado com o governo federal, cabendo ao governo do Estado R$ 800 milhões.Prefeituras da região já apostam também na exploração do turismo, aproveitando os reservatórios, que deverão formar um lago de 100 km de extensão, com, pelo menos, quatro quilômetros de largura, no interior do Estado. Não se pensa apenas em esportes aquáticos, mas também em promover excursões a locais de interesse turístico ou histórico. Barra Bonita é sempre citada como exemplo do que pode ser feito. É claro que, em uma obra desse porte, deve haver uma avaliação cuidadosa do impacto sobre o meio ambiente. Ambientalistas recomendam que não deve ser feita uma análise isolada de cada barragem, mas um levantamento sobre seus efeitos sobre toda a Bacia Hidrográfica do Tietê. O diretor do Departamento Hidroviário do Estado, Casemiro Tércio Carvalho, concorda. Como ele informou, os órgãos ambientais do governo estão fazendo uma avaliação de todo o projeto. "Não faria sentido pensar em cada barragem individualmente", disse ele. Uma das questões em discussão é o risco de, com o fim das corredeiras que ajudam a despoluir o rio, o lixo ficar retido em lagoas, como alerta Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da SOS Mata Atlântica. O fato é que, nos trechos em questão, embora não com o mesmo volume despejado na região metropolitana de São Paulo, materiais inservíveis, solventes e resíduos sólidos são lançados no Tietê, levando ao desaparecimento de diversas espécies de peixes, causando mau cheiro, etc. Sob esse aspecto, Casemiro Carvalho considera que as barragens podem até ser benéficas. Segundo ele, o represamento das águas reterá o lixo lançado no rio, que será retirado, salientando que os reservatórios serão mantidos limpos, prevendo-se dragagem quando ocorrer o assoreamento e acúmulo de lodo, até mesmo para evitar o encalhe de barcaças.Outro problema é a preservação de Áreas de Proteção Ambiental (APAs), criadas por prefeituras ou pelo próprio governo do Estado. Uma delas, por exemplo, é o Parque das Monções, em Porto Feliz, ponto de partida das expedições de bandeirantes nos séculos 17 e 18, área tombada pelo patrimônio histórico do Estado e que poderia vir a ser inundada, segundo Malu Ribeiro. Em face das dúvidas, é apenas uma questão de bom senso que o Departamento Hidroviário, os órgãos ambientais do Estado e das prefeituras, junto com entidades como a SOS Mata Atlântica, procurem chegar a um entendimento antes de as obras irem a licitação. Isso não só por uma questão de transparência, como porque as objeções ambientais, quando os projetos já estão em andamento, causam paralisações que, levadas à Justiça, acarretam prejuízos para os cofres públicos, para a economia regional e para as próprias populações que poderiam ser beneficiadas com novos projetos de desenvolvimento.