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Os eternos perdedores

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Por Redação
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Os brasileiros que planejam viajar de avião neste fim de ano estão ameaçados dos mesmos dissabores de anos anteriores. Os aeroviários e aeronautas, cuja data-base é 1.º de dezembro, reivindicam reajuste de salários de 10% para toda a categoria e de 14% para aqueles que ganham o piso salarial. As companhias aéreas ofereceram aumento geral de 3% e de 6% para o piso. Como não se chegou nem mesmo a estabelecer um diálogo entre as partes, os sindicatos marcaram uma greve para o próximo dia 22, às vésperas do Natal. É a velha chantagem. Já foi sugerido que as categorias de trabalhadores do setor alterem sua data-base, recebendo uma compensação por isso, mas nunca aceitaram essa hipótese, confiantes em que a apreensão causada pela ameaça de greve a milhares de pessoas que querem viajar no fim de ano fortaleça o seu movimento. E garantem que não estão "blefando". Já as companhias aéreas parecem alheias a tudo, dando a impressão de que nada têm a perder com a greve. Afinal, milhares de passagens foram vendidas com antecedência e, ainda que seus titulares queiram, não conseguiriam remarcar para antes do dia 22 as viagens programadas, sem pagamento de uma sobretaxa. A Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil (Fentac) nega que seus filiados estejam se aproveitando do aumento exponencial do movimento nesta época do ano. Afirmam que em 15 de setembro apresentaram uma proposta de reajuste às empresas, que não se mostraram interessadas em negociar, ignorando solenemente não só seus empregados, como os interesses de sua clientela, que tanto dizem prezar. Além de poderem aumentar as suas receitas nesse período, as empresas parecem preferir que a Justiça decida, em cima da hora, a questão de reajuste dos salários, como ocorreu no ano passado. Nesse cenário, não se pode levar a sério a decisão do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC) do Ministério da Justiça - alegadamente para evitar as habituais confusões nos aeroportos no final do ano e início das férias - de notificar as empresas aéreas para que esclareçam os procedimentos que adotam para transferência de horários, cancelamento ou remarcação de voos. "Nosso intuito é criar uma política para evitar conflitos", disse Amaury Oliva, diretor substituto do DPDC, acrescentando que, com base nas informações colhidas, o Ministério da Justiça vai traçar um plano de ação. A ver que plano será esse, até porque a fiscalização deveria caber à Agência Nacional da Aviação Civil (Anac), que tem competência para monitorar o setor, mas nada fez até agora para disciplinar as frequências de voos para destinos diversos, atrasos, cancelamentos e remarcações. Todos aqueles que viajam habitualmente estão cansados de saber que as companhias aéreas não têm compromisso com horários. Com frequência que já se torna um hábito, as companhias manejam os passageiros de acordo com a lotação de seus voos, cancelando muitos deles, de acordo com a taxa de ocupação dos aviões ou transferindo os passageiros para outros horários.As autoridades, no entanto, não cogitam de rever a programação de voos, retirando da grade aqueles em que há poucos passageiros. Preferem submeter os passageiros aos incômodos dos cancelamentos e adiamentos de voos, a privar as empresas de "slots" que poderiam atender melhor aos usuários do sistema aéreo se fossem destinados a rotas mais procuradas. Quanto à suposta existência de um plano B para períodos de movimentação excepcional, como o que se aproxima, ele simplesmente não existe. Se houver greve, ainda que parcial, haverá "apagão" nos aeroportos, com conflitos entre passageiros e as empresas que nem a fiscalização da Anac e nem a do DPDC conseguirão evitar. Já está na hora de o governo acabar com esse jogo de interesses, que se repete ano a ano, em que os consumidores são sempre os únicos perdedores.