Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Os grupos antiocupação

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

Numa iniciativa oportuna e corajosa, um expressivo número de alunos da Unicamp e da Unesp decidiu se opor às constantes paralisações de atividades acadêmicas determinadas por diretórios estudantis e sindicatos de professores e funcionários administrativos, com apoio de movimentos sociais e micropartidos de esquerda, como o PSTU e o PSOL. Cansados das invasões de Reitorias e dos trancamentos de salas de aula, que impedem o funcionamento administrativo das faculdades e prejudica o cronograma escolar, esses alunos criaram grupos apartidários – a Unicamp Livre e a Unesp Livre – e passaram a exigir o cumprimento do calendário escolar.

Na USP, essa iniciativa foi deflagrada há alguns anos por alunos dos cursos de economia. Agora, na Unicamp, a formação do grupo antiocupação também foi liderada por alunos do Instituto de Economia, que se rebelaram contra a invasão do prédio da instituição, em maio, e contra mais uma greve deflagrada por funcionários e professores. “O que nos move é o cansaço com a forma abusiva e autoritária como essas mobilizações estudantis são impostas para toda a comunidade acadêmica”, afirma o grupo Unicamp Livre, que já conta com o apoio de estudantes de outros cursos.

Na Unesp, a oposição contra as minorias estudantis que recorrem à intimidação e à violência para bloquear o acesso a dependências universitárias surgiu nos campi de Araraquara, Rio Claro, Presidente Prudente, Marília, Assis e Franca. Nos três últimos, os prédios encontram-se ocupados em nome de uma “política mais atuante de permanência estudantil”, além de cotas nos vestibulares e reajustes de salários de professores e servidores. O Unesp Livre alega que, apesar de o País viver uma profunda crise política e econômica, as entidades estudantis e sindicais das universidades públicas continuam com a mesma pauta do início da década. “Não podemos deixar que elas falem por todos. Somos contrários à greve e às ocupações como forma de reivindicação”, diz Felipe Lintz, aluno do curso de geografia.

Segundo os integrantes da Unicamp Livre e da Unesp Livre, a comunidade acadêmica não pode mais se submeter aos interesses ideológicos e corporativos de minorias instrumentalizadas por facções radicais de esquerda e a liberdade de pensamento e manifestação tem de ser restabelecida. Os dois grupos também criticam as associações de professores, funcionários e estudantes que entendem que as universidades mantidas pelo governo estadual, por serem públicas, não podem firmar parcerias com a iniciativa privada. Como a queda da arrecadação do ICMS vem comprometendo o orçamento dessas instituições, parcerias com pequenas e médias empresas poderiam ajudá-las a equilibrar as contas, não prejudicando pesquisas, bolsas de estudo e aulas. Nos primeiros quatro meses de 2016, USP, Unicamp e Unesp receberam o menor repasse de recursos em sete anos.

O modelo de financiamento da USP, Unicamp e Unesp – que pela Constituição estadual têm direito a 9,57% da receita do ICMS – é hoje objeto de intensa polêmica. Em 2015, o governo estadual pressionou a Assembleia Legislativa a aprovar uma lei que determinava que, a partir de 2016, as universidades estaduais teriam direito, “no máximo”, a esse porcentual. Pela lei anterior, a USP, Unicamp e Unesp tinham direito, “no mínimo”, a 9,57%. Enquanto entidades de professores, funcionários e estudantes pró invasões insistem em afirmar que o Estado tem de arcar com todos os gastos das universidades públicas, os movimentos Unicamp Livre e Unesp Livre defendem um modelo de financiamento que permita novas fontes de receita, inclusive privadas.

Independentemente dos desdobramentos dessa discussão, a criação de grupos antiocupação é uma resposta à banalização das greves. No Estado de Direito, manifestações e greves são admitidas, mas não podem ser confundidas nem com violência e intimidação nem com o impedimento do funcionamento normal de instituições de ensino, em prejuízo da sociedade.