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Para salvar a Bancoop

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Por Redação
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Já não sem tempo, o Ministério Público (MP) requereu a intervenção judicial na Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop), com o afastamento do seu presidente e de duas diretoras, além da indisponibilidade dos seus bens até o limite dos valores devidos pela entidade. "Esgotou-se a expectativa de que os administradores observassem seus deveres e regularizassem eventuais desmandos", escreveu a promotora de Justiça do Consumidor Karyna Mori, na petição de 118 páginas.A rigor, os desmandos não são menos reais do que a relutância da cúpula da cooperativa em ressarcir as vítimas de um escândalo cujas primeiras evidências foram levantadas em 2006. A cooperativa, criada 10 anos antes por um sindicato atrelado ao PT, tungou 3 mil cooperados que acreditaram na promessa fraudulenta de se tornarem proprietários de imóveis pelos quais desembolsariam 40% menos do que os valores de mercado.Em outubro de 2010, o MP paulista pediu abertura de processo por formação de quadrilha, estelionato, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro contra o então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e cinco outros companheiros. Depois de participar da diretoria da entidade durante oito anos, ele a presidiu de 2005 a fevereiro de 2010. Os incautos cooperados compraram na planta e pagaram as prestações de 1.126 moradias, no valor total de R$ 100 milhões. Ou não receberam os imóveis ou os receberam sem condições de serem ocupados.Dos 46 empreendimentos oferecidos pela Bancoop, 28 não foram concluídos e 13 nem sequer saíram do papel. Vaccari e seus comparsas foram acusados pelo promotor José Carlos Blat de cavar um rombo de R$ 168 milhões na conta da entidade. "Uma parte foi para o PT", sustenta o promotor. Um único repasse de R$ 200 mil foi identificado. Mas R$ 31 milhões foram sacados na boca do caixa em sucessivas operações. "A quadrilha contava com sofisticada manipulação de dados dos balanços contáveis", registrou Blat.A sua colega Karyna Mori, por sua vez, destaca no seu documento que a atual diretoria da Bancoop é intimamente ligada aos seus antecessores. O presidente Wagner de Castro, para começar, acumula ainda as presidências dos sindicatos dos bancários do ABC e São Paulo. Ele é filiado ao PT, assim como a diretora técnica Ivone Maria da Silva, também dirigente de organismos sindicais ligados à CUT. Ela doou recursos para a campanha do candidato a deputado federal do ex-diretor do Bancoop Ricardo Berzoini.A propósito, quando coordenador da campanha de reeleição do presidente Lula, em 2006, Berzoini chamou o ex-diretor do Banco do Estado de Santa Catarina Jorge Lorenzetti para integrar a equipe de inteligência do PT. Tornou-se um dos nove "aloprados" - protagonistas da tentativa de comprar, por R$ 1,7 milhão, um dossiê contra o então candidato tucano ao governo paulista, José Serra. Há dias, a Justiça de Mato Grosso enfim abriu processo contra os envolvidos no escândalo.O criminalista Alberto Zacharias Toron, defensor de um deles, Hamilton Lacerda, que à época coordenava a campanha do petista Aloizio Mercadante ao Palácio dos Bandeirantes, disse estranhar que a denúncia tenha sido oferecida (e aceita) "em período pré-eleitoral e muito próximo ao julgamento do mensalão". Coincidentemente - ou não -, o advogado da Bancoop, Pedro Serrano, acusa a promotora Karyna de ser movida pelo "desejo inconfessável de levar essa questão para as próximas eleições, dando caráter político à demanda". Por esse raciocínio, os escândalos da Bancoop, mensalão e aloprados não poderiam ser objeto de procedimentos judiciais em anos de eleição - um em cada dois, no Brasil. No caso da cooperativa, a Justiça deveria ignorar o prosseguimento, segundo a promotora, "das práticas achacantes para cobrir os rombos verificados até o momento". O pedido de intervenção judicial na entidade, conforme deliberação de 2011 do Conselho Superior do Ministério Público, visa a sustar tais práticas, cujo custo recai não sobre a diretoria, mas sobre a entidade, em prejuízo dos cooperados.