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Paralisia na indústria

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Por Redação
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Com muitas máquinas paradas, vendas em baixa e desemprego em alta, a produção industrial continuou em queda no segundo trimestre. Ficou 0,4% abaixo da estimada para o período de janeiro a março e foi 6,7% inferior à de um ano antes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta mensal de 0,6% em maio foi apenas um soluço, como indicaram os analistas, porque a atividade voltou a cair no mês seguinte. Em junho, o volume produzido foi 0,3% menor que no mês anterior. Em relação a igual mês de 2014 a baixa foi de 4,3%. A recessão está bem caracterizada no setor industrial e dificilmente haverá uma recuperação significativa na segunda metade do ano. Os consumidores perderam poder de compra, o desemprego tem aumentado e a inflação continua roendo os salários. Dos empresários, acuados pela insegurança econômica e pela crise política, pouco se pode esperar enquanto o cenário continuar nebuloso.

A hesitação de quem decide o rumo dos negócios continua paralisando os investimentos produtivos. A fabricação de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos, caiu 3,3% de maio para junho, para um patamar 17,2% mais baixo que o do mês correspondente do ano anterior. De janeiro a junho, o volume fabricado foi 20% inferior ao dos primeiros seis meses de 2014. Em 12 meses, a queda ficou em 15,4%. Com o mercado interno retraído e sem perspectiva de melhora a curto prazo, pouquíssimos se dispõem a aumentar a capacidade produtiva das empresas.

Exportar pode ser uma alternativa, mas essa porta só se abre para quem tem algum poder de competição. Não é o caso da maior parte das indústrias brasileiras. As empresas estão sobrecarregadas de custos, mesmo com o baixo nível de atividade, e só a depreciação cambial tem trazido algum reforço à sua competitividade.

O dólar mais caro barateia os produtos brasileiros no exterior, mas até agora os benefícios do câmbio desvalorizado são pouco visíveis. O saldo comercial só tem melhorado porque a importação caiu 19,5% neste ano, enquanto a exportação diminuiu 15,5%. A recessão – com a baixa demanda interna – tem sido o grande fator de ajuste do comércio exterior.

A forte retração da atividade é confirmada pelos dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Segundo os últimos dados, de maio para junho o faturamento caiu 5,5%, descontada inflação, as horas de trabalho na produção diminuíram 1,1%, o emprego diminuiu 0,7% e o uso da capacidade instalada aumentou 0,1 ponto porcentual, uma variação insignificante. Na contramão, o salário médio real cresceu 1,3% e a massa real de salários expandiu-se 0,8%.

Todos esses números, exceto o rendimento médio real, com ganho de 1%, foram bem menores que os de junho do ano passado. No semestre, o faturamento real foi 7% inferior ao de janeiro a junho do ano passado. Na mesma comparação, as horas de trabalho diminuíram 8,6% e o emprego, 4,6%.

A crise da indústria vem de longe. O setor sempre andou mal desde o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Pelos dados do IBGE, a produção industrial cresceu 0,4% em 2011, encolheu 2,3% em 2012, expandiu 2,1% em 2013 e diminuiu 3,1% em 2014. O resultado geral dos quatro anos foi, portanto, negativo. A crise ainda se agravou. Nos 12 meses terminados em junho, o volume produzido foi 6,3% menor que no período imediatamente anterior. As compras de máquinas e equipamentos, com algumas oscilações, também foram muito mal nesses quatro anos e meio.

Não se pode, portanto, atribuir a retração econômica ao ajuste iniciado, quase sem avanço até agora, nas contas públicas. A economia já estava em cacos no meio do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. A tolerância à alta de preços e a devastação das contas públicas mantiveram a inflação sempre elevada, enquanto o investimento derrapava e a indústria atolava. Adiar o ajuste apenas aumentará a insegurança e tornará o desastre muito mais grave.