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Política e finanças podres

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Por Redação
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Mais um estrago multibilionário é revelado com a limpeza de créditos podres acumulados e repassados pela Caixa Econômica Federal. Os danos causados a entidades federais pela política da presidente Dilma Rousseff confirmam seu talento administrativo quase milagroso – uma inversão do toque de Midas. A partir de 2014, a Caixa vendeu com enorme deságio cerca de R$ 23 bilhões de créditos altamente duvidosos, com possibilidade muito escassa de recuperação. Como outras empresas controladas pelo Tesouro, os bancos federais tiveram de servir a uma política de baixíssima qualidade, coroada pela mais longa e mais funda recessão dos últimos 25 anos. Não haverá surpresa se, dentro de pouco tempo, essa crise se confirmar como a mais grave das últimas oito décadas e meia. O saque da Petrobrás é ainda o maior exemplo dos males causados ao patrimônio estatal pelo estilo de governo inaugurado em 2003. Mas a devastação, por todos os tipos de interferência, vai muito além desse exemplo. O mau uso das instituições financeiras é também um capítulo importante.

Em 2014, segundo reportagem do Estado, a Caixa passou adiante R$ 8,3 bilhões de créditos de baixa qualidade e recebeu em troca R$ 1,6 bilhão, com desconto, portanto, de 80,7%. A faxina realizada no ano passado foi muito maior e muito mais custosa. A limpeza envolveu créditos podres contabilizados em R$ 13,1 bilhões. Esses direitos foram vendidos por R$ 493,3 milhões, com o notável deságio de 96,2%. Foi um caso de perda quase total para o banco. Neste ano, até fevereiro, foram postos à venda mais R$ 1,5 bilhão da carteira de empréstimos a micro e pequenas empresas.

Depois de ter sido, por muitos anos, o grande canal de financiamento do programa habitacional do governo, a Caixa teve de trabalhar também para o Minha Casa Melhor, fornecendo crédito subsidiado para compras de móveis, eletrodomésticos e produtos eletrônicos. Lançada em junho de 2013 como complemento do Minha Casa, Minha Vida, a nova linha de financiamento deveria ser mais um instrumento de captura de votos e de fidelização de eleitores já dependentes da ajuda oficial. Cerca de um ano e meio depois, em outubro de 2015, o programa foi paralisado, por falta de dinheiro, sem ter cumprido a meta de fornecer R$ 18,7 bilhões de créditos.

Segundo informou a Caixa na época, as famílias beneficiadas com o cartão do programa chegaram a gastar R$ 2,92 bilhões. A inadimplência, de acordo com os últimos números obtidos pelo Estado, chegou a 35,2%, mais que o triplo da observada em linhas similares de outros bancos (10%).

Inadimplência, provisões para devedores duvidosos e venda de créditos podres são componentes normais da operação das instituições financeiras e também de outros tipos de empresas. Mas instituições privadas tendem a operar normalmente com o objetivo de garantir lucratividade razoável aos acionistas e sobreviver em mercados sujeitos a alguma concorrência. 

Essas instituições podem sofrer danos causados pelo estouro de bolhas, principalmente quando a regulamentação dos mercados é insuficiente. Podem, às vezes, correr riscos injustificáveis. No Brasil, no entanto, as normas têm sido suficientemente estritas para impor disciplina e razoáveis padrões de segurança à maior parte das instituições.

A submissão de bancos oficiais e outras entidades às conveniências políticas do governo pode levar a decisões mal planejadas. No ano passado, o valor dos créditos vendidos pela Caixa foi muito maior que o dos ativos podres descartados por outros grandes bancos. O Banco do Brasil descartou R$ 3 bilhões e o Itaú Unibanco, R$ 2,2 bilhões.

Mas negócios duvidosos têm sido realizados por todas as entidades sujeitas ao governo. Isso inclui a discutível compra de participações minoritárias em bancos privados e investimentos em maus negócios. As enormes perdas de fundos de pensão de estatais são facilmente explicáveis por decisões orientadas politicamente. A Caixa está longe de ser um caso isolado