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Prévia ainda aponta PIB fraco

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Por Redação
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Baixo crescimento e inflação elevada continuam marcando a economia brasileira neste fim de ano, apesar de alguma recuperação no terceiro trimestre. Tudo indica, até agora, o pior desempenho desde a recessão de 2009, quando o valor produzido foi 0,3% menor que o do ano anterior. Os sinais de melhora, por enquanto, são muito fracos. A atividade aumentou 0,4% de agosto para setembro, segundo o indicador calculado mensalmente pelo Banco Central (IBC-Br). A expansão em 12 meses chegou a 0,6%, mas o acumulado entre janeiro e setembro superou por apenas 0,01%, quase nada, o resultado de igual período de 2013. O índice de atividade estimado para setembro foi mais baixo que os de outubro e de novembro do ano passado. Só uma aceleração mais sensível nestes meses finais poderá garantir, portanto, algum avanço em relação ao ano passado. Esse é mais um detalhe preocupante, especialmente porque o mais recente balanço do emprego mostrou a eliminação, em outubro, de 30.283 postos com registro em carteira. O IBC-Br é considerado uma prévia do PIB divulgado a cada três meses pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).A melhor notícia embutida no indicador do BC é o fim da recessão. A produção diminuiu 0,2% no primeiro trimestre e 0,6% no segundo. Duas quedas trimestrais consecutivas caracterizam tecnicamente o quadro recessivo. No terceiro trimestre, o IBC-Br foi 0,59% maior que no segundo. Se a variação positiva for confirmada pelo IBGE, a economia brasileira será oficialmente considerada fora do buraco.Economistas da Serasa Experian também puseram seu modelo de cálculo para rodar e anunciaram nesta segunda-feira o fim da recessão. Pelas suas contas, o PIB cresceu 0,2% do segundo para o terceiro trimestre, já descontados os fatores sazonais. Mas, apesar dessa melhora, a atividade ainda ficou 0,1% abaixo do nível estimado para o período de julho a setembro do ano passado. Além disso, o acumulado em nove meses foi apenas 0,3% maior que de igual período de 2013. Na avaliação geral dos técnicos da Serasa Experian, o quadro de baixo dinamismo permanece, com a atividade prejudicada por juros elevados, inflação estourando o limite de tolerância, reduzido grau de confiança de empresários e consumidores e desaceleração do crescimento mundial.A maior parte dos fatores negativos é interna. A referência às condições internacionais aparece no fim da enumeração. Na retórica da presidente Dilma Rousseff e de sua equipe, a importância dos fatores é invertida e o maior peso é atribuído ao quadro externo. Segundo essa retórica, a política econômica brasileira colecionou acertos nos últimos anos, as contas públicas foram administradas corretamente, a estratégia de crescimento foi a melhor possível e nunca houve tolerância à inflação.Pouca gente informada concorda com esse discurso. No mercado financeiro, a mediana das projeções de crescimento subiu de forma quase imperceptível na última semana, passando de 0,2% para 0,21% na pesquisa Focus, uma sondagem semanal do BC. Segundo a mesma pesquisa, a expectativa em relação à indústria piorou e agora se prevê uma contração de 2,3% para a produção do setor. Uma semana antes se apostava numa redução de 2,21%. A projeção do saldo comercial também diminui, passando de US$ 1 bilhão para US$ 400 milhões. Com isso, o saldo em conta corrente será pior que o do ano passado e chegará, segundo a estimativa, a US$ 82 bilhões - um buracão.Em contrapartida, subiu ligeiramente a inflação projetada para o ano. Quatro semanas antes estava em 6,45%. Caiu para 6,39% e voltou a 6,4%, continuando muito perto do limite de tolerância, de 6,5%. Como as contas do governo vão mal e o governo tem tido problemas sérios para rolar seus papéis, a dívida pública estimada subiu de 35,2% para 35,8% do PIB, de acordo com a pesquisa. Em resumo: será preciso muito mais que a pequena melhora apontada pelo IBC-Br para eliminar, ou pelo menos atenuar, o pessimismo dos analistas. Isso ainda deve demorar.