Imagem ex-librisOpinião do Estadão

Problemas com o etanol

Exclusivo para assinantes
Por Redação
2 min de leitura

O setor sucroalcooleiro atravessa atualmente uma de suas piores fases. De um lado, o preço do açúcar no mercado internacional teve forte queda em relação ao ano passado. Na última semana, a cotação fechou em 20,47 centavos de dólar por libra-peso, em leve alta, mas nada animadora. Apesar da recente valorização do dólar, há produtores que temem que, se a cotação cair abaixo de 20 centavos de dólar, pressionada pelo aumento da produção indiana e tailandesa, o setor sofreria prejuízo. De fato, o efeito preço já se reflete nas exportações brasileiras de açúcar, que somaram US$ 1,748 bilhão no primeiro quadrimestre deste ano, com queda de 24,80% em relação ao mesmo período de 2011 (US$ 2,324 bilhões). A alternativa para usinas de açúcar que têm flexibilidade para produzir também etanol seria aumentar a produção do combustível, mas seu preço não é remunerador, mantendo-se a 70% do preço da gasolina, congelado há muito tempo. O resultado é que cessaram novos investimentos no setor e diversas usinas estão à venda, prevendo-se que o endividamento de muitas delas desencadeie uma nova rodada de fusões e aquisições.Para algumas usinas que contam com plantações de cana e só produzem álcool, a opção mais econômica, em face de uma quebra da safra 2011/2012, estimada em 12%, pode ser deixar de moer cana e vender o que restou dos canaviais para outras empresas, como mostrou reportagem de Renée Pereira no Estado (21/5). A Usina Dracena, por exemplo, com capacidade para moer 1,5 milhão de toneladas, decidiu vender 950 mil toneladas de cana de suas plantações e deixar de operar nessa safra. A redução da quantidade colhida "nos obriga a operar abaixo da capacidade, o que causaria aumento dos custos fixos, de manutenção e de pessoal", como disse Pedro Collegari, superintendente da empresa. Esta será a primeira vez desde 2006 que a usina paralisa o processamento de cana, lembrando-se que, no ano passado, a empresa produziu 70 milhões de litros de etanol hidratado.Outras empresas tomaram decisões semelhantes, preferindo aplicar recursos na renovação dos canaviais, necessitando também contar com financiamentos cada vez mais escassos. Dado o alto endividamento do setor, estimado em R$ 42 bilhões, os bancos dificultam a concessão de novos empréstimos. O BNDES abriu uma linha de crédito para renovação dos canaviais, mas poucas usinas conseguiram obter esses recursos até agora.Além disso, como assinalam usineiros, a participação do BNDES é fato isolado, não fazendo parte de uma política abrangente como o setor reclama. Com relação ao etanol, como disse Maurílio Biagi, do Grupo Maubisa, "ninguém está pedindo para o governo elevar o preço da gasolina. Há outras formas de dar mais competitividade ao etanol, como a desoneração tributária". Especificamente, o setor já apresentou ao governo uma proposta de redução das alíquotas do PIS/Cofins sobre o produto.O que se nota é muito pouco estímulo para a expansão da cultura da cana, situação que não vai se modificar em futuro próximo. Prova disso é que importações de etanol dos EUA, produzido a partir de milho - que deveriam ser episódicas, para atender a desequilíbrios regionais entre a oferta e a demanda -, vêm se tornando habituais. Com a entrada da safra 2012/2013, que começou a ser colhida em abril, o Brasil ainda deve importar dos EUA 500 milhões de litros de etanol, segundo estimativa da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica).Em contrapartida, as exportações brasileiras de etanol pela Região Centro-Sul, que concentra 90% da produção nacional, devem cair na safra 2012/2013, ficando em 1,7 bilhão de litros, em comparação com 1,85 bilhão de litros na safra anterior. "Esperávamos uma melhora na produtividade do setor, mas não deve haver grandes mudanças este ano", diz o presidente interino da Unica, Antonio de Pádua Rodrigues. A queda das cotações do açúcar é um fenômeno cíclico inevitável, como ocorre com todas as commodities. Contudo, essas oscilações poderiam ser muito amenizadas pelo aumento da produção de etanol pelo Brasil, mas essa expectativa está ainda longe de concretizar-se.