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Produção agrícola e inflação

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Por Redação
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Se o comportamento da inflação dependesse apenas da oferta dos principais alimentos que vão à mesa dos brasileiros, teria toda a razão o diretor de Política Agrícola e Informações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), João Marcelo Intini, que, ao comentar os resultados do sétimo levantamento da safra brasileira de grãos realizado pela empresa, afirmou: "Tudo indica retração da inflação para os próximos meses". O bom desempenho da agricultura até justificaria o otimismo. O índice de inflação oficial, o IPCA, porém, tem sido impulsionado por quase três quartos dos itens que o compõem, pois a alta média dos preços é generalizada e, nos últimos meses, mais intensa entre aqueles controlados pelo governo, como os de energia elétrica, de transportes públicos e de combustíveis.Sem o contínuo crescimento da produção agrícola e dos ganhos de produtividade no campo, decerto o quadro seria pior. Na mais recente estimativa de produção de grãos na safra 2014/2015, concluída neste mês, a Conab estimou o total em 200,68 milhões de toneladas, 1,1% mais do que a estimativa anterior, de 198,54 milhões de toneladas. Em relação à safra 2013/2014, de 193,62 milhões de toneladas, o aumento previsto é de 3,6%, sem grande alteração na área destinada ao plantio, o que antecipa ganho expressivo de produtividade.Embora utilize outros métodos de aferição e outros termos de comparação, também o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em sua terceira estimativa do ano para a safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas, previu o aumento de produção, que deve alcançar 199,7 milhões de toneladas, 3,6% mais do que o total colhido em 2014 (de 192,8 milhões de toneladas). A nova projeção é maior também do que a anterior, de fevereiro (nesse caso, o aumento é mais discreto, de 0,1%). A área colhida aferida pelo IBGE deve alcançar neste ano 57,3 milhões de hectares, 1,7% maior do que a colhida no ano passado. Como a produção crescerá mais, também pelas estimativas do IBGE a agricultura brasileira registrará ganhos de produtividade em 2015.Algumas das principais culturas, como a soja, já estão com a colheita em pleno andamento, e outras, como o milho da primeira da safra, com a colheita praticamente concluída. O plantio do milho da segunda safra igualmente está praticamente concluído, com leve redução da área plantada, mas com potencial de produtividade considerado bom pela Conab. Essas circunstâncias dão mais consistência à sua nova estimativa de produção. Além do mais, de acordo com Intini, "ninguém está falando em estiagem ou falta de chuva". Ou seja, "choverá o que sempre choveu".No caso da soja, o principal destaque da sétima pesquisa da Conab, nem os problemas climáticos observados em janeiro afetaram a expectativa de produtividade nos Estados de Minas Gerais, Goiás, Maranhão e Pará. O aumento esperado da produção nacional é de 9,5%, o equivalente a 8,2 milhões de toneladas, o que deverá levar a produção a 94,28 milhões de toneladas na atual safra.No caso dos itens da cesta básica de alimentos, "não só temos estoques, como temos regulação de preço", na avaliação do diretor da Conab. Não há grandes oscilações nos preços desses itens e, de fato, para a maioria deles, o estoque final previsto para a atual safra é maior do que o inicial. O de feijão, por exemplo, deve passar de 303,9 mil para 463,7 mil toneladas, o segundo maior desde a safra 2009/2010; e o de milho, de 14.271 mil para 17.756 mil toneladas. Devem diminuir os estoques de arroz em casca (de 822,6 mil para 819,7 mil toneladas, uma redução de apenas 0,3%) e de trigo (de 933,6 mil para 473,1 mil toneladas, queda de praticamente 50%, o que deve acelerar as importações).Além de assegurar a oferta adequada de alimentos, o setor agrícola, com o grande volume de suas exportações, tem evitado uma deterioração ainda mais rápida da balança comercial brasileira. Mas, apesar do importante papel que vem desempenhando na economia, nem ela é forte o bastante para evitar que a imprevidência e os erros do governo nos últimos anos force a inflação para cima.