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Recessão mais agronegócio

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Por Redação
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O Brasil acumulou um superávit comercial de R$ 17,23 bilhões neste ano até a terceira semana de maio. Em todo o ano passado o saldo foi pouco maior, de US$ 19,68 bilhões, pelas contas do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Até dezembro o resultado poderá atingir US$ 40 bilhões, pelas estimativas do Banco Central (BC), ou passar de US$ 49 bilhões, segundo as previsões do mercado financeiro. Mas a novidade embutida nesses números não é tão boa quanto parece. A melhora do saldo reflete a combinação de dois fatores contrastantes: a fraqueza da maior parte da economia brasileira e o poder de competição ainda respeitável do agronegócio.

O comércio exterior brasileiro continua encolhendo, com redução tanto do ingresso quanto da saída de dólares. Até a terceira semana de maio o País faturou US$ 67,92 bilhões, ou 4% menos que um ano antes, pela média dos dias úteis. O saldo positivo foi possível porque as importações continuam caindo mais que as vendas. Neste ano, o valor importado, de US$ 50,68 bilhões, foi 31,4% inferior ao de igual período de 2015. Essa queda é explicável basicamente pela recessão, com atividade em queda, desemprego em alta e contração tanto do consumo quanto do investimento. Com a economia no atoleiro e a população empobrecida, há pouco motivo para importar.

Mas a exportação teria caído ainda mais sem o bom desempenho comercial do agronegócio, o único setor dinâmico da economia brasileira. De janeiro a abril – último detalhamento disponível – as vendas externas do setor chegaram a US$ 28,10 bilhões, valor 10,2% maior que o dos primeiros quatro meses de 2015. Em abril, o agronegócio faturou US$ 8,08 bilhões, 14,3% mais que um ano antes. O superávit acumulado no quadrimestre passou de US$ 20,52 bilhões em 2015 para US$ 24,10 bilhões em 2016. Este valor foi quase o quíntuplo do saldo de US$ 4,86 bilhões registrado no mesmo período para o total do comércio brasileiro de mercadorias. O superávit do agronegócio, obtido mesmo com vários preços em queda, foi bem mais que suficiente, portanto, para compensar o déficit comercial de outros setores.

O agronegócio exporta produtos básicos, como carnes e vegetais em grãos; semimanufaturados, como óleo de soja em bruto; e manufaturados, como açúcar refinado e suco de laranja congelado. Mas, para efeito de ilustração, pode-se confrontar o desempenho comercial do agronegócio com o do conjunto dos manufaturados, onde se incluem, por exemplo, veículos e componentes, motores e geradores elétricos, laminados planos, artefatos de plástico e máquinas diversas, entre muitos outros produtos. A comparação mostra claramente o contraste entre o agronegócio e a maior parte da indústria, quando se trata de poder de competição no mercado internacional.

De janeiro a abril a exportação de manufaturados proporcionou receita de US$ 21,48 bilhões, 1,8% menor que a dos primeiros quatro meses de 2015. No caso dos semimanufaturados, o faturamento obtido com os semimanufaturados, de US$ 8,08 bilhões, ficou 5,4% abaixo do contabilizado no mesmo período do ano anterior. Em maio, até a terceira semana, a receita dos manufaturados continuou em queda, ficando 3,8% abaixo da de um ano antes. A dos semimanufaturados ficou 5,8% acima.

O conjunto dos industrializados tem perdido participação no total exportado e nem a melhora do câmbio, nos últimos dois anos, mudou essa tendência. Baixa produtividade, associada ao investimento insuficiente, ao despreparo da mão de obra e à baixa inovação, explica a maior parte do problema. Esse quadro, mais uma vez, confirma o fracasso da política industrial do governo petista, baseada na distribuição de benefícios fiscais e financeiros a grupos e setores selecionados e a um protecionismo anacrônico. Se o governo interino permanecer, sua agenda com certeza incluirá a substituição dessa política por uma estratégia de produtividade, competitividade e inserção maior da indústria no mercado global.