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Recessão nas contas externas

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Por Redação
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Recessão, desemprego em alta e dólar mais caro estão reduzindo o buraco nas contas externas – um meio doloroso, mas quase sempre eficiente, de ajustar o balanço de pagamentos. Com importações menores e gastos mais moderados no exterior, o déficit em conta corrente continuou encolhendo no fim do semestre passado e chegou a US$ 2,55 bilhões em junho. O acumulado em 12 meses passou de US$ 95,61 bilhões em maio para US$ 93,05 bilhões no mês passado, mas ainda correspondeu a 4,36% do Produto Interno Bruto (PIB). Essa porcentagem seria muito mais aceitável se o Brasil estivesse em melhores condições para competir e para ganhar mais dólares no mercado de bens e de serviços.

Mas até a recessão está produzindo, nas contas externas, um efeito limitado. Quando ocorre uma forte contração do mercado interno, uma consequência normal e previsível é a redução das compras de produtos importados. Mas outra consequência frequente é o aumento das exportações. Isso ocorre porque as indústrias procuram fora do país uma compensação para a piora dos negócios locais.

Esse esforço é muitas vezes facilitado pela depreciação da moeda nacional. Com essa desvalorização, os produtos exportados ficam mais baratos para os compradores estrangeiros. Esta segunda parte da história, a mais agradável, está faltando no caso do Brasil, neste ano. Não há, portanto, motivos muito fortes para comemoração.

A melhora das contas externas, ainda muito limitada, só ocorre porque as importações estão caindo mais que as exportações. Não há um lado bonito nessa balança. De janeiro a junho, o valor dos bens exportados, de US$ 94,16 bilhões, foi 14,62% menor que o de um ano antes. Mas o valor importado, de US$ 93,02 bilhões, ficou 18,29% abaixo do contabilizado no primeiro semestre de 2014. Diminuíram tanto as compras de bens de consumo, porque as famílias perderam renda, quanto as de máquinas e equipamentos, porque aumentou a capacidade ociosa nas fábricas e, além disso, os empresários têm-se mostrado muito inseguros quanto à evolução da economia.

A comparação limitada aos números de junho deste ano e do ano passado aponta um recuo de 3,85% nas exportações de bens e uma diminuição de 16,5% nas importações. Esta última cifra é mais um indício do aprofundamento da recessão.

Além do comércio de bens, a conta corrente (oficialmente chamada de transações correntes) inclui as contas de serviços (como viagens, fretes, seguros e assistência técnica, entre outros), a de renda primária (em que aparecem juros e dividendos) e a de renda secundária (remessas unilaterais, como o dinheiro mandado por trabalhadores no exterior).

Houve melhora também nestas contas, explicável em parte pela recessão, em parte pela alta do dólar. No primeiro semestre, o déficit na conta de serviços, por exemplo, ficou em US$ 20,55 bilhões, 9,55% abaixo do de um ano antes. O de renda primária (US$ 19,79 bilhões) diminuiu 19,3% em relação à mesma base.

A baixa dos preços internacionais das commodities, tanto agrícolas quanto minerais, afetou a receita de exportações. O Brasil tornou-se muito dependente, nos últimos dez anos, das vendas de produtos básicos. Mas o dado mais preocupante é a redução das vendas de manufaturados. Mesmo com a depreciação do real as empresas têm tido muita dificuldade para competir com as indústrias estrangeiras. De modo geral, a economia brasileira vem perdendo poder de competição há vários anos, por causa das deficiências da infraestrutura, da rápida elevação dos custos internos, da tributação inadequada e também da qualidade insatisfatória da mão de obra, muito menos educada e menos produtiva que a dos países mais dinâmicos.

Com a redução dos investimentos, denunciada pela menor compra de máquinas e equipamentos nacionais e importados, as indústrias devem continuar com problemas de produtividade e competitividade. O governo pouco deve contribuir, neste ano e no próximo, para mudar esse quadro.