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Retração da abertura de capitais

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Por Redação
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Estamos em outubro, mas, para fins de abertura do capital de empresas, o ano já terminou, segundo constatou a consultoria Ernst & Young Terco. A expectativa era de que fossem realizados no ano 30 IPOs (ofertas iniciais de ações, na sigla em inglês) e até o fim do terceiro trimestre só houve 11, número que deve permanecer inalterado, dadas as condições do mercado, refletindo as incertezas relacionadas à crise na Zona do Euro e as turbulências da economia dos EUA. Como informou o consultor André Viola Ferreira ao jornal Valor (11/10), das 11 empresas que ingressaram no mercado em 2011, apenas 2 tiveram suas ações negociadas pelos valores de lançamento. Nas outras 9 o preço foi inferior. O que agora se discute é se é necessário manter a taxação de 2% do IOF sobre as aplicações externas em ações, sabendo-se que 70% dos IPOs, especialmente no Novo Mercado - que requer que todos os papéis das empresas sejam ações ordinárias com direito a voto -, têm sido absorvidos por investidores estrangeiros. E estes, agora, se retraem cada vez mais. Em setembro, os investidores estrangeiros retiraram R$ 249,11 milhões líquidos da BM&F/Bovespa, o que configura uma tendência, já que ocorre pelo sexto mês consecutivo. Pode-se alegar que o que vem acontecendo no País não é diferente do que se verifica no mercado internacional. De acordo com o relatório global da Ernst & Young Terco, no terceiro trimestre deste ano foram realizados 284 IPOs no mercado internacional, movimentando US$ 28,5 bilhões, um recuo de 25% em número de casos e de 57% em valor, em relação ao do trimestre anterior (383 operações, no total de US$ 65,6 bilhões). Além disso, o mercado brasileiro de ações é muito sensível à conjuntura internacional e o mercado primário, ou seja, o lançamento de ações novas, é condicionado pelo comportamento da Bolsa. Quando ela está em alta, o ambiente é considerado favorável para a oferta inicial de ações. Assim, há muitas empresas brasileiras à espera de melhores condições para abrir o capital e elevar seus investimentos. Essa circunstância certamente não aconselha que se mantenha um gravame sobre aplicações externas em ações, que, a mais longo prazo, contribuem para o desenvolvimento nacional.Vale notar que, embora os investidores estrangeiros tenham um papel decisivo no lançamento de novas ações, os investidores institucionais (fundos de pensão, entidades de previdência privada, fundos de investimento, seguradoras, etc.) foram os que mais fizeram resgates na Bolsa em setembro. Essa evolução frustrou a expectativa de muitos de que, com a redução da taxa básica de juros para 12% a.a. e a perspectiva de baixar mais, os investidores institucionais seriam levados a investir mais em ativos de risco.Seja como for, continua sendo do interesse do País que mais empresas abram o capital e, sob esse aspecto, o Brasil está bastante atrasado com relação às economias mais desenvolvidas e de alguns emergentes. A capitalização pelo mercado de ações no País corresponde a 74% do PIB, segundo cálculos da BM&F/Bovespa, enquanto nos Estados Unidos, na China, na Coreia do Norte e no Chile corresponde a 100% ou mais do PIB. O número de empresas listadas na Bolsa brasileira não chega a 500. Outro dado significativo é que, das 1.000 maiores empresas nacionais por faturamento, somente 300 estão na BM&F/Bovespa.Deve-se considerar também que, como disse a presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Maria Helena Santana, o mercado de ações continua fora do alcance das empresas de menor porte. Os IPOs no Brasil são quase sempre de grande valor, diferentemente do que se verifica em outros países desenvolvidos ou emergentes. Nos EUA, a média dessas operações, em 2010, foi de US$ 246 milhões; no México, de US$ 264 milhões; no Reino Unido, de US$ 181 milhões; e na Austrália, de US$ 66 milhões. Já a média brasileira é de US$ 620 milhões. Isso explica por que o Brasil está entre os três maiores no ranking mundial em volume captado por IPOs e está abaixo da 10.ª posição em número dessas operações.