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Sangria que dificulta a cura

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Por Redação
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Apesar de estarem sendo reestruturadas e submetidas a critérios de gestão baseados em eficiência e qualidade, as antigas companhias estaduais de distribuição de energia elétrica que a Eletrobrás teve de absorver por imposição política do governo do PT continuam a gerar perdas financeiras pesadas. Isso torna ainda mais difícil a execução do severo programa de ajuste que a estatal iniciou este ano, para suportar o ônus decorrente do plano do governo para baixar as tarifas e manter o programa de investimentos de R$ 52,5 bilhões até 2017.O prejuízo gerado pelas antigas empresas estaduais - são seis, que atuam no Norte e no Nordeste - alcançou R$ 645 milhões no primeiro semestre, metade das perdas de R$ 1,3 bilhão registrada no ano passado. Desde que assumiu essas empresas há quatro anos, a Eletrobrás perdeu, com elas, cerca de R$ 9 bilhões.Além de assumir os maus resultados das distribuidoras estaduais, a estatal teve de arcar com boa parte do custo das novas regras para o setor elétrico, que implicaram um prejuízo de R$ 10 bilhões no quarto trimestre de 2012 (no ano, o prejuízo ficou em R$ 6,9 bilhões). A perda decorreu da reavaliação de seus ativos nos setores de geração, transmissão e distribuição cuja concessão foi renovada antecipadamente. Essa reavaliação resultou em pagamento, pelo governo, de uma indenização menor do que a prevista, a título de remuneração de investimentos não amortizados. Além disso, a renovação antecipada implicou a redução das tarifas.Há alguns meses, a Eletrobrás anunciou um rigoroso programa de ajuste, que prevê a redução de seu quadro de pessoal de 27 mil para 22 mil funcionários e um corte de 30% de suas despesas de custeio nos próximos três anos. Mesmo sem as perdas impostas pelo plano do governo a Eletrobrás e suas subsidiárias teriam, em algum momento, de se reestruturar, pois, desde o início do governo do PT, vinham sendo administradas de acordo com critérios político-partidários.Desde que anunciou o programa de ajuste, a atual diretoria da empresa - que adotou critérios técnicos para geri-la - vem examinando a possibilidade de privatizar as antigas distribuidoras estaduais de Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Alagoas e Piauí. Essas empresas estavam em péssima situação financeira e operacional e, para evitar sua quebra, que imporia ônus políticos aos governadores, o governo petista obrigou a Eletrobrás a assumir seu controle - e também suas dívidas e seus prejuízos. No ano passado, a Eletrobrás assumiu também o controle da Companhia de Eletricidade do Amapá, cuja dívida, na ocasião, era estimada em R$ 1,6 bilhão.As antigas distribuidoras estaduais estão submetidas a uma direção unificada, que, para torná-las mais eficientes, impôs-lhes metas, como indicadores de qualidade do fornecimento, de perdas técnicas e comerciais e de inadimplência. No entanto, persistem os maus resultados financeiros.No primeiro semestre, a Eletrobrás anunciou o início do processo de escolha de uma instituição financeira que a auxiliaria na definição do modelo de reestruturação das antigas distribuidoras estaduais. O modelo poderia incluir a venda de todas ou de algumas delas.Há dias, em encontro com analistas do mercado de capitais, o diretor financeiro da Eletrobrás, Armando Casado de Araújo, anunciou a contratação do banco que executará essa tarefa. "Pedimos uma avaliação sem preconceitos, para que tenhamos alternativas viáveis para apresentar aos acionistas", disse o diretor. Segundo ele, nenhuma opção está descartada, desde a venda em fatias até a privatização total.O fato de que as concessões das distribuidoras sob controle da Eletrobrás vencerão em 2015 torna mais complicada a definição do modelo. Por isso, de acordo com o diretor da estatal, nenhuma decisão deve sair este ano. Enquanto isso, mesmo absorvendo os prejuízos das distribuidoras, a Eletrobrás vem procurando executar seu programa de investimentos, que prevê para 2013 a aplicação de R$ 12 bilhões, dos quais conseguiu investir R$ 4,8 bilhões no primeiro semestre.