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Opinião|Santa Casa sai da UTI

Agora está fortalecida no seu tripé de excelência: atendimento, pesquisa e ensino

Atualização:

“Apenas os que dialogam podem construir pontes e vínculos.” A frase, dita pelo papa Francisco, faz-nos refletir que é necessário falar, mas também saber ouvir. Ouvir as diferentes vozes que formam a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo não é só entender a instituição, mas compreender sua importância histórica para a formação da cidade. E foi dessa forma que trabalhamos para plantar a semente de uma nova era na Santa Casa de São Paulo.

Assumimos em junho de 2015 com o propósito de pôr a instituição no caminho da sustentabilidade financeira e resgatar sua credibilidade perante os paulistanos. Ao longo destes 23 meses, os resultados positivos mostram que a Santa Casa de São Paulo está fortalecida no seu tripé de excelência: atendimento, pesquisa e ensino.

No início, o foco foi a busca de controle de custos e ajustes de processos para maior produtividade por meio de serviços compartilhados e devolução de unidades ao Município de São Paulo, o que resultou numa redução expressiva do nosso quadro de funcionários e otimização dos níveis de compras. Em 2016 a prioridade foi renegociar nossas dívidas, para que voltássemos a operar plenamente e com custos administráveis, bem como o início de uma abrangente implementação de tecnologia da informação, com o uso do Prontuário Eletrônico do Paciente, fundamental para a segurança no atendimento e os controles internos da produção, dos estoques e do faturamento. Houve ainda um trabalho para tornar rentável a carteira de imóveis da instituição, com a profissionalização da área, que permitiu regularizar unidades, liberando imóveis de uso operacional que foram convertidos para renda e realizando operações diferenciadas para rentabilizar o patrimônio.

Com relação à captação de recursos, enfrentamos durante nossa gestão uma das crises econômicas mais difíceis por que o Brasil já passou, o que impactou diretamente nas doações para instituições filantrópicas, como a Santa Casa.

Ao longo de 2016 iniciamos uma transformação na cultura da organização, ampliando a integração dos vários departamentos e implementando uma rotina de negociação de metas e gestão de indicadores, tornando viável a busca por resultados. Isso só foi possível com a forte parceria com as lideranças médicas e corporativas da Santa Casa.

Na otimização da infraestrutura, buscamos oferecer melhores serviços aos pacientes, como o Centro Médico Santa Isabel, que está em novas instalações dentro do quadrilátero ocupado pela instituição no bairro de Santa Cecília. Melhoramos o atendimento com instalações mais adequadas, efetuando reformas no pronto-socorro, na UTI, na ortopedia e na ginecologia.

Ponto marcante da nossa gestão foi a obtenção do empréstimo de R$ 360 milhões, em dezembro de 2016, na Caixa Econômica Federal. O valor foi fundamental para renegociar os débitos com fornecedores e bancos. Com esse aporte, o custo mensal da dívida foi reduzido, aliviando o caixa. Antes do empréstimo, pagávamos R$ 9 milhões em serviço da dívida bancária por mês. Em 2017 pagaremos R$ 4,6 milhões de juros e em 2018 será iniciada a amortização do empréstimo, com prestações de R$ 6,2 milhões.

Durante nossa gestão tivemos uma evolução substancial dos indicadores financeiros da instituição. Deixaremos um patrimônio líquido estimado em R$ 1 milhão, muito superior ao valor em dezembro de 2014, que estava negativo em R$ 121,1 milhões. Já nos resultados operacionais, o ano de 2014 teve resultado negativo de R$ 56,5 milhões e fechamos 2016 com resultado positivo de R$ 107,3 milhões. O indicador que mostra que caminhamos rumo à recuperação foi o resultado em cada exercício, que evoluiu de um déficit de R$ 121,5 milhões em 2014 para um superávit de R$ 38 milhões da instituição em 2016.

Outra importante questão abordada por esta gestão foi a aproximação com a faculdade e a reestruturação dos nossos centros de estudos e pesquisas, fortalecendo a nossa vocação histórica de assistência, ensino e pesquisa, fundamentais para qualquer grande centro médico e hospitalar. Nos últimos dois anos foram realizadas mais de 763 pesquisas pelo Instituto de Pesquisa Clínica da Irmandade. Esse volume foi produzido a partir dos 13 centros de estudos conectados aos diferentes departamentos médicos, como, por exemplo, o de pediatria. Isso comprova a importância da instituição não só para o Estado de São Paulo, mas para o Brasil.

Temos orgulho de dizer que deixamos uma instituição mais saudável, operacionalmente eficaz e economicamente sustentável, com a confiança da sociedade e dos gestores públicos e, principalmente, preservando o respeito por aqueles que buscam nosso atendimento.

Agora, a sustentabilidade financeira da instituição dependerá da continuidade de uma gestão focada em metas e resultados, visando a atender os pacientes e, ao mesmo tempo, cumprir os acordos estabelecidos com os convênios firmados com as três esferas governamentais – federal, estadual e municipal. Precisamos aumentar as receitas obtidas pelo Hospital Santa Isabel, nosso braço da medicina suplementar, e otimizar a administração do nosso patrimônio imobiliário. Somos uma instituição que tem grande parte de seus recursos vinda da saúde pública e, a exemplo de tantas outras instituições filantrópicas, sofremos com a não atualização da tabela SUS há alguns anos. É importante que haja continuidade na modernização da nossa governança com a reformulação de nosso estatuto, a criação de um conselho fiscal, um código de ética e condutas e regras de compliance, o que, infelizmente, não conseguimos fazer.

Queremos agradecer todo o apoio recebido dos excelentes profissionais e líderes comprometidos que, juntamente conosco, realizaram essas mudanças, assim como dos parceiros e fornecedores que acreditaram em nossa convicção de honrar os nossos compromissos.

*Respectivamente, provedor, vice-provedor e superintendente da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo – Gestão 6/2015-4/2017 

Opinião por José Luiz Setúbal
Eduardo de Almeida Carneiro
José Carlos Villela