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São Paulo e a conta da crise

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Por Redação
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Com o maior e o mais diversificado parque fabril do País, o Estado de São Paulo paga um preço especialmente elevado, em termos de atividade empresarial, emprego e receita tributária, pela crise gerada pelos erros econômicos do governo federal. A produção industrial de janeiro a setembro, em todo o País, foi 5,6% menor que a de um ano antes, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) recuou 3,2% na mesma comparação. Em outubro a produção industrial brasileira continuou ladeira abaixo. Foi 0,7% inferior à de setembro e 11,2% menor que a do mês correspondente de 2014. No acumulado do ano, a queda chegou a 7,8%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado mensal no Estado de São Paulo – redução de 0,4% – foi menos mau que a média nacional, mas o desempenho ao longo de 2015 e em 12 meses foi desastroso.

De janeiro a outubro, a indústria paulista produziu 10,5% menos que nos 10 meses correspondentes do ano anterior. Em 12 meses a queda chegou a 10,4%. A média nacional ficou em 7,8% na primeira comparação e em 7,2% na segunda. No ano, só Amazonas (menos 15,1%) e Rio Grande do Sul (menos 11,8%) tiveram números piores.

O desempenho especialmente ruim da indústria paulista é em parte explicável pela crise da indústria automobilística (recuo de 24,6% em 10 meses) e do setor de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos (queda de 13,6% na mesma comparação).

Os produtores de automóveis, ônibus, caminhões, tratores e peças foram prejudicados tanto pela redução de incentivos fiscais quanto pela diminuição do crédito. O setor de máquinas e equipamentos – e isto vale também para caminhões e máquinas agrícolas e de construção – refletiu a crise dos demais setores e, portanto, os temores dos empresários e a redução dos planos de investimento. O efeito da insegurança é visível tanto na demanda interna de bens de capital quanto na importação.

Por seu peso na economia do Estado, a indústria é particularmente importante como fonte geradora de empregos e de receita tributária. De janeiro a outubro, o Tesouro paulista arrecadou R$ 121,36 bilhões em valores correntes, ou R$ 125,12 bilhões a preços do último mês. Descontada a inflação, o total arrecadado foi 4,4% menor que o de um ano antes. O tombo foi mais assustador em outubro, quando a arrecadação de R$ 11,64 bilhões foi 9,7% inferior, em termos reais, à de igual mês de 2014.

O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) proporcionou 83,4% da receita acumulada no ano e seu valor também ficou 4,4% abaixo do contabilizado entre janeiro e outubro de 2014. No mês, foi 9,3% inferior ao de outubro do ano passado. A aproximação das festas de fim de ano geralmente anima os negócios, favorece contratações e reforça a arrecadação de tributos. Nada disso ocorreu neste ano. Os comerciantes pouco se animaram, o desemprego continuou aumentando e a atividade industrial permaneceu em marcha muito lenta.

A arrecadação prevista para o próximo ano, na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) do Estado de São Paulo, ficou em R$ 192,55 bilhões. A projeção foi baseada numa expectativa de inflação de 5,5%, calculada pelo Índice Geral de Preços (IGP) da Fundação Getúlio Vargas e num crescimento de 1% do PIB estadual. No mercado financeiro a projeção do IGP de 2016 chegou a 6,17% no começo de dezembro. Para o PIB, a última estimativa é de um recuo de 2,31%, com a produção industrial diminuindo 2,40%. As projeções do governo paulista, formuladas há meses, quando foi elaborada a proposta da LDO, estão quase certamente superadas. As expectativas pioraram muito nos últimos meses e a crise política poderá ainda complicar o quadro econômico. “Sempre há espaço para piorar”, comentou o diretor do Departamento Econômico da Fiesp, Paulo Francini, ao apresentar, no dia 1.º de dezembro, os números da atividade industrial paulista de outubro. O processo de impeachment ainda estava na gaveta do presidente da Câmara.